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Crise Climática

REPORTAGEM

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Seca no Brasil e mais 9 eventos extremos que custaram bilhões em 2022

Casa é engolida pela força da água no Paquistão - Reprodução/Twitter
Casa é engolida pela força da água no Paquistão Imagem: Reprodução/Twitter

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/12/2022 11h00

Esta é parte da versão online da newsletter Crise Climática enviada hoje (29). A versão completa, apenas para assinantes, destaca um relatório que aponta um fundo administrado pelo "campeão" climático da ONU, Mark Carney, como responsável por 9 mil hectares de desmatamento no Cerrado brasileiro. Quer receber o boletim completo na semana que vem, com a coluna principal e informações extras, por email? Clique aqui e se cadastre.

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Um novo relatório da Christian Aid (Counting the Cost 2022) mostra que dez eventos extremos tiveram um impacto em 2022 de R$ 15 bilhões (US$ 3 bilhões) ou mais, cada um. A maior parte das estimativas deste levantamento leva em conta apenas as perdas reportadas pelas seguradoras, o que significa que os custos financeiros reais são provavelmente muito mais altos, enquanto os custos humanos não são contabilizados.

Entre eles está a seca de 2021 no Brasil, que gerou impactos até o começo de 2022, a um custo estimado de mais de R$ 20 bilhões (US$ 4 bilhões). Outro evento em destaque é o Furacão Ian que atingiu os EUA e Cuba em setembro, custando R$ 500 bilhões (US$ 100 bilhões) e deslocando 40 mil pessoas. A seca extrema observada na Europa no último verão custou R$ 100 bilhões (20 bilhões de dólares).

As inundações no Paquistão que mataram mais de 1.700 pessoas e deslocaram pelo menos outras 7 milhões causaram R$ 150 bilhões (US$ 30 bilhões) em prejuízos econômicos, segundo estimativas do Banco Mundial incluídas no relatório. A maior parte deste prejuízo não foi segurada devido à dificuldade de obtenção de seguro - apenas cerca de R$ 29 bilhões (US$ 5,6 bilhões) foram cobertos.

A lista completa inclui ainda a tempestade Eunice, em fevereiro, na Europa; as inundações na Austrália entre fevereiro e março; as enchentes de abril na África do Sul; chuvas extremas na China de junho a setembro; o furacão Fiona, que atingiu o Caribe e o Canadá; e uma seca extrema na China, cujos efeitos se prolongaram de 2021 a 2022, como uma seca intensa também no Brasil.

No relatório, uma segunda lista destaca ainda 10 desastres climáticos eventos de 2022 que não estão na lista de perdas seguradas, mas foram igualmente prejudiciais às comunidades ou representaram ameaças futuras preocupantes. Entre eles estão as inundações em Petrópolis, em fevereiro de 2022, e as ondas de calor simultâneas e inéditas no Ártico e na Antártida, em março.

"Por trás dos números em dólares, estão milhões de histórias de perda e de sofrimento humano", diz o CEO da Christian Aid, Patrick Watt.

"O custo humano da mudança climática é visto nas casas lavadas pelas enchentes, entes queridos mortos por tempestades e meios de subsistência destruídos pela seca. Foi um ano devastador para quem está na linha de frente da crise climática."
Patrick Watt, CEO da Christian Aid

"Muitos desses eventos têm uma coisa em comum: wavenumber 5. Em julho e início de agosto de 2022, assim como no verão de 2021, um padrão global com cinco grandes ondas circulava pelo mundo, levando a ondas de calor simultâneas através dos continentes e inundações coincidentes onde ocorreram centros de baixa pressão", explica Hayley Fowler, professora de Impactos da Mudança Climática na Escola de Engenharia na Universidade de Newcastle, na Inglaterra.

"Este padrão, conhecido como wavenumber 5, pode persistir por semanas, causando a permanência de áreas quentes por muito tempo, e as áreas úmidas conectadas a ele se tornam muito úmidas", continua a pesquisadora. "Isto torna [os eventos] mais caros e impactantes, e gerenciar seus efeitos nas comunidades é um enorme desafio."

"Aqui na África, estamos vendo o sofrimento que a mudança climática está causando àqueles que fizeram o mínimo para causá-la. 2023 precisa ser o ano em que todos nós acordamos para começar a colocar o mundo no caminho certo", afirma Mohamed Adow, diretor do think thank Power Shift Africa, com sede em Nairobi, no Quênia. "Precisamos ver a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, uma aceleração da energia renovável e maior apoio aos vulneráveis."

E o que mais você precisa saber

YANOMAMI - Christian Braga/Greenpeace - Christian Braga/Greenpeace
Sobrevoo regista áreas de garimpos ilegais dentro da Terra Indígena Yanomami, em Roraima, em abril de 2021
Imagem: Christian Braga/Greenpeace

SOS Yanomami

A invasão de garimpeiros e ladrões de terras públicas na Terra Indígena Yanomami, na divisa do Brasil com a Venezuela, tem as crianças como principais vítimas.

Segundo reportagem da Pública, 429 pessoas com menos de cinco anos morreram na região entre 2019 e 2021 por por causas evitáveis, como malária, pneumonia, desnutrição, diarreia e verminoses.

A taxa brasileira para essa faixa etária é de 260 mortes para cada 100 mil nascidos vivos, segundo o DataSUS. A devastação causada pelo garimpo, estimulada pelo governo Bolsonaro, e a própria ausência do Estado geraram esse cenário.

Você conhece?

Um revolucionário do clima. Este foi o termo usado pela revista científica Nature para definir o pesquisador de Bangladesh Saleemul Huq, um dos dez maiores nomes da ciência em 2022 destacados pela publicação.

Ele liderou extraoficialmente por mais de uma década os esforços para obtenção de um acordo para a criação de um fundo para perdas e danos causados pela mudança climática em países vulneráveis. A criação foi efetivada em novembro, na última Conferência do Clima no Egito (COP27).

"Perdas e danos não é ajuda", disse Huq à Nature. Ele explica que o fundo se baseia no princípio do 'poluidor-pagador' e por isso sofreu oposição desde a primeira vez que foi proposto, ainda na Rio92. "Quando o dinheiro é dado como ajuda, todo o poder está nas mãos do doador. É uma relação desigual", acrescentou ele.

EDUARDO BIM - Divulgação - Divulgação
Eduardo Fortunato Bim, presidente do Ibama
Imagem: Divulgação

Psicopata

O Instituto de Direito Coletivo abriu uma Ação Civil Pública para suspensão imediata dos efeitos de uma medida do Ibama que levará à prescrição de 42 mil processos de crime ambiental lavrados entre 2008 e 2019.

A medida é de autoria do presidente do Ibama, Eduardo Bim, que ficou conhecido ao declarar que não se importava com as críticas ao seu trabalho pois seria, em suas palavras, um "psicopata".

A medida representa um "perdão" cerca de R$ 18 bilhões em multas por crimes como desmatamento, tráfico de animais, exploração ilegal de madeira e invasão de unidades de conservação. Uma outra ação movida por parlamentares também pede a anulação das medidas, e o governo eleito já sinalizou para uma ação neste sentido.

Este mês, Bim afirmou que o Ibama não tinha dinheiro para pagar a conta mensal de água e luz.

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