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Texto contra 'fake news' que Brasil ignorou defendia livre expressão
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Em 12 de junho do ano passado, a missão dos Estados Unidos nas Nações Unidas informou publicamente que o governo do então presidente Donald Trump havia assinado um documento se comprometendo a combater o tsunami de notícias falsas que estava sendo provocado pela pandemia.
O texto, capitaneado por Austrália, Chile, França, Geórgia, Índia, Indonésia, Lituânia, Líbano, Ilhas Maurício, México, Noruega, Senegal e África do Sul, classificava a "infodemia" como algo "tão perigoso para a saúde e para a segurança humana quanto a própria pandemia". Ressaltava ainda que notícias falsas sobre o novo coronavírus poderiam "fomentar a violência e dividir comunidades".
O documento, que acabou angariando a assinatura de um total de 132 países, foi rechaçado pelo Brasil. E, na sessão desta terça-feira (18), ao menos três senadores que participam da CPI da Pandemia quiseram saber o por quê.
Ao responder aos senadores Ângelo Coronel (PSD-BA), Alessandro Vieira (CIDADANIA-SE) e Leila Barros (PSB-DF), o ex-chanceler Ernesto Araújo disse que a decisão sobre não firmar o texto foi exclusivamente sua e alegou que agiu em defesa da liberdade de expressão.
"Nós avaliamos que esse instrumento poderia conter determinadas expectativas de comportamento do governo brasileiro que pudessem não ser compatíveis com a legislação nacional de proteção à liberdade de expressão e outros aspectos da expressão regulados pela nossa legislação", disse o ex-ministro.
O documento internacional não estabelecia, no entanto, nenhum mecanismo de censura. Determinava, inclusive, "o devido respeito à liberdade de expressão dos cidadãos, bem como pela ordem e segurança públicas".
Araújo ignorou a iniciativa mesmo assim.
O texto, ainda disponível para leitura, dizia ser "fundamental" que os Estados se opusessem à desinformação "como um fator tóxico". Considerava as notícias falsas como um ingrediente capaz de gerar efeitos colaterais importantes como "violência, violações dos direitos humanos e atrocidades em massa".
Levando em conta seu tempo de Itamaraty, é claro que o ex-chanceler sabia que aquilo era apenas uma (importante) carta de intenção. Uma chance de se posicionar ao lado de que não apoia desinformadores. Mas não o fez.
O texto, firmado pelas maiores potências democráticas do mundo, pedia que se garantisse o livre acesso a "informações gratuitas, confiáveis, factuais, multilíngues, direcionadas, precisas, claras e baseadas na ciência", bem como "o diálogo e a participação de todas as partes interessadas e comunidades afetadas" no debate sobre a pandemia.
Ignorado por Araújo, o documento também confirmava "o papel fundamental da mídia livre, independente, responsável e pluralista como forma de aumentar a transparência, a responsabilidade e a confiança". Sugeria uma "cooperação internacional, baseada na solidariedade e na boa vontade entre os países" como forma de diminuir a desinformação.
Na sessão de hoje, a senadora Leila lembrou episódio recente em que Araújo tuitou em inglês uma crítica ao jornalismo da CNN. Na postagem, o ex-chanceler desinformava sobre o real papel de governadores e prefeitos durante a atual crise sanitária. Foi, em poucos minutos, checado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes.
A seguir, a lista do países (em inglês) que firmaram o documento rechaçado por Araújo:
1. ALBANIA
2. ALGERIA
3. ANDORRA
4. ANGOLA
5. ARGENTINA
6. ARMENIA
7. AUSTRALIA
8. AUSTRIA
9. AZERBAIJAN
10. BANGLADESH
11. BARBADOS
12. BELARUS
13. BELGIUM
14. BHUTAN
15. BOLIVIA
16. BOSNIA AND HERZEGOVINA
17. BULGARIA
18. BURKINA FASO
19. CANADA
20. CHILE
21. COLOMBIA
22. COSTA RICA
23. CÔTE D'IVOIRE
24. CROATIA
25. CYPRUS
26. CZECH REPUBLIC
27. DENMARK
28. DJIBOUTI
29. DOMINICAN REPUBLIC
30. ECUADOR
31. EGYPT
32. EL SALVADOR
33. EQUATORIAL GUINEA
34. ERITREA
35. ESTONIA
36. ETHIOPIA
37. FIJI
38. FINLAND
39. FRANCE
40. GAMBIA
41. GEORGIA
42. GERMANY
43. GREECE
44. GUATEMALA
45. GUINEA
46. HONDURAS
47. HUNGARY
48. ICELAND
49. INDIA
50. INDONESIA
51. IRAQ
52. IRELAND
53. ISRAEL
54. ITALY
55. JAPAN
56. JORDAN
57. KENYA
58. LATVIA
59. LEBANON
60. LESOTHO
61. LIECHTENSTEIN
62. LITHUANIA
63. LUXEMBOURG
64. MADAGASCAR
65. MALAYSIA
66. MALDIVES
67. MALTA
68. MARSHALL ISLANDS
69. MAURITIUS
70. MEXICO
71. MOLDOVA
72. MONACO
73. MONGOLIA
74. MONTENEGRO
75. MOROCCO
76. MOZAMBIQUE
77. MYANMAR
78. NAMIBIA
79. NEPAL
80. NETHERLANDS
81. NEW ZEALAND
82. NIGERIA
83. NORTH MACEDONIA
84. NORWAY
85. PAKISTAN
86. PALAU
87. PANAMA
88. PAPUA NEW GUINEA
89. PARAGUAY
90. PERU
91. POLAND
92. PORTUGAL
93. QATAR
94. REPUBLIC OF KOREA
95. ROMANIA
96. RWANDA
97. SAINT KITTS AND NEVIS
98. SAINT LUCIA
99. SAINT VINCENT AND THE GRENADINES
100. SAN MARINO
101. SAUDI ARABIA
102. SENEGAL
103. SERBIA
104. SEYCHELLES
105. SIERRA LEONE
106. SLOVAKIA
107. SLOVENIA
108. SOUTH AFRICA
109. SOUTH SUDAN
110. SPAIN
111. SRI LANKA
112. SURINAME
113. SWEDEN
114. SWITZERLAND
115. THAILAND
116. TIMOR LESTE
117. TOGO
118. TONGA
119. TUNISIA
120. TURKEY
121. TURKMENISTAN
122. TUVALU
123. UGANDA
124. UKRAINE
125. UNITED KINGDOM
126. UNITED STATES OF AMERICA
127. URUGUAY
128. UZBEKISTAN
129. VENEZUELA (BOLIVARIAN REPUBLIC OF VENEZUELA)
130. YEMEN
131. STATE OF PALESTINE
132. EUROPEAN UNION
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