Alta de contágio em SP coincidiu com relaxamento de cuidados e com eleições
Nos últimos três meses, o município de São Paulo registrou um aumento significativo na taxa de transmissão do novo coronavírus, indica um gráfico produzido com exclusividade para a coluna.
O período coincide com a campanha eleitoral municipal deste ano — contando a partir do dia 27 de setembro, quando começou a propaganda gratuita, até os dias seguintes ao primeiro turno, em 15 de novembro — e com o relaxamento da população em relação aos protocolos sanitários (uso de máscaras, por exemplo) e ao retorno das atividades sociais.
O gráfico, elaborado pelo físico Fernando Nascimento, consultor da Fundação Instituto de Administração (FIA) e professor de métodos quantitativos do ESE - Escola Superior de Empreendedorismo do Sebrae-SP, demonstra a evolução dos registros de pacientes com covid-19 e a estimativa da data em que as ocorreram as contaminações.
A partir desses dados, Nascimento obteve a taxa de contágio, que indica o número de pessoas para as quais cada paciente contaminado, em média, transmite o vírus.
Quando a taxa média de transmissão (Rt), expressa pela linha vermelha, é igual a 1, por exemplo, significa que cada paciente com covid-19 contamina, em média, uma nova pessoa. Quando a curva da taxa de contágio cai abaixo de 1, portanto, tem-se uma desaceleração da epidemia.
A análise do gráfico permite observar que entre o início de agosto até final de setembro a taxa de contágio permaneceu quase sempre abaixo de 1. Essa foi a fase de maior desaceleração da pandemia em São Paulo. A partir daí, a taxa de transmissão volta a oscilar com maior frequência e com picos mais altos acima de 1, o que indica uma aceleração no número de novos casos.
Os pequenos círculos amarelos no gráfico indicam as datas do primeiro e do segundo turno das eleições (a estimativa de contágio para o segundo turno ainda não está disponível). No dia 15 de novembro, portanto, quando os paulistas compareceram pela primeira vez nas urnas, este ano, a média de transmissão era de um novo infectado para cada pessoa já contaminada.
A coincidência de datas não significa, porém, que os atos de campanha — muitos dos quais foram marcados por aglomerações e descuidos com os protocolos sanitários — ou a mobilização para a votação foram os únicos ou mesmo os principais fatores da alta nos índices de contágio. Outras variáveis tiveram peso ainda maior.
Segundo o infectologista Alexandre Naime Barbosa, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Sociedade Brasileira de Infectologia, o que mais impactou no aumento na taxa de transmissão da doença foi o comportamento geral da população.
"As campanhas eleitorais podem ter contribuído pontualmente em alguns locais ou momentos, mas o principal motivo foi que nesse período as pessoas passaram a viajar mais, a socializar em encontros presenciais e a deixar de evitar aglomerações", diz Barbosa.
Ou seja, uma parcela significativa da população foi além do que permitia a retomada de algumas atividades econômicas e sociais e abandonou regras básicas, como usar máscara, evitar aglomerações e dispensar encontros com muitas pessoas.
"Esse fenômeno reflete uma cultura de baixa aderência a regras", diz o infectologista.
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