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Felipe Moura Brasil

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

A grana dos blogueiros de crachá

Denisse Ribeiro, delegada da PF - Reprodução/TRF-4
Denisse Ribeiro, delegada da PF Imagem: Reprodução/TRF-4

Colunista do UOL

20/08/2021 18h17

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Sou grato à delegada Denisse Ribeiro, da Polícia Federal.

As investigações conduzidas por ela corroboram e aprofundam minha reportagem de outubro de 2019 intitulada "Os blogueiros de crachá", bem como outros artigos e comentários que publiquei sobre a claque de Jair Bolsonaro.

A remuneração com dinheiro do povo em gabinetes bolsonaristas, os mais de mil acessos de perfis falsos ligados aos Bolsonaro e aliados em órgãos públicos, os repasses da Petrobras a um empresário financiador do bolsonarismo (que me processou e perdeu), o desejo de boquinhas na TV Brasil, os anúncios de estatais em canais aliados, além das obscuridades da Secom no uso da mídia programática - tudo isso apareceu em relatórios da delegada da PF, mantida por Alexandre de Moraes no inquérito dos atos antidemocráticos, depois transformado pelo ministro do STF em novas investigações.

Em documento enviado ao TSE, Ribeiro agora aponta a replicação das estratégias de Steve Bannon de manipulação do debate político e as vantagens auferidas com o clima de 'nós' contra 'eles' e os ataques a jornalistas independentes - tudo também exemplificado quase dois anos antes na minha matéria de capa na Crusoé.

Na ocasião, resumi assim a relação de Bannon com o bolsonarismo:

"Proprietário da distribuidora ARC Entertainment e diretor dos documentários Generation Zero (...), Battle for America (...) e Fire from the Heartland (...), Steve Bannon é ex-diretor do portal Breibart News, 'a plataforma da alt-right', a direita alternativa, como ele chamou em 2016. Bannon assumiu a direção da campanha de Donald Trump três meses antes da eleição e, com a vitória, virou estrategista-chefe da Casa Branca. Acabou sendo demitido por Trump sete meses depois. Na sequência, deixou o Breitbart em saída consensual, segundo a empresa.

Foi Filipe Martins um dos articuladores do primeiro encontro de Eduardo Bolsonaro com Bannon, em Nova York, em agosto de 2018. A reunião lhe rendeu, como entusiasta natural de Sorocaba, o apelido de Sorocabannon. Em março de 2019, Jair Bolsonaro jantou com Bannon, Eduardo, Ernesto Araújo e Olavo de Carvalho na residência do embaixador do Brasil em Washington, Sergio Amaral. Em 23 de setembro, o já postulante a embaixador Eduardo voltou a se encontrar com Bannon em Nova York.

Desde então, os contatos com Bannon se estreitaram, e o americano passou a ser referência para o núcleo ideológico do governo e para a sua tropa virtual - na prática, o governo Bolsonaro é aliado de Trump e a família Bolsonaro é aconselhada por um estrategista demitido por ele."

A tropa virtual, explica a delegada da PF, procura eliminar a figura dos intermediários formadores de opinião e promover "ataque aos veículos tradicionais de difusão de informação (jornais, rádio, TV etc.)", dissipando "a distinção entre o que é informação e o que é opinião". Para Ribeiro, "a prática visa, mais do que uma ferramenta de uso político-ideológico, um meio para obtenção de lucro, a partir de sistemas de monetização oferecido pelas plataformas de redes sociais. Transforma rapidamente ideologia em mercadoria, levando os disseminadores a estimular a polarização e o acirramento do debate para manter o fluxo de dinheiro pelo número de visualizações".

Em outras palavras: o bolsonarismo é tanto mais lucrativo na internet quanto mais reacionário, aloprado e explorador de notícias falsas ou tiradas de contexto. A denúncia da Procuradoria da República no Distrito Federal contra um emblemático blogueiro de crachá por ameaça ("pra você ver o que a gente faz com você") ao presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, e a decisão do corregedor-geral do tribunal, Luis Felipe Salomão, de suspender a monetização milionária de canais bolsonaristas são reveses naturalmente explorados pela própria claque, para estimular a polarização e o acirramento do debate.

Hannah Arendt falava dos "tolos e estúpidos cuja falta de inteligência e criatividade é ainda a melhor garantia de lealdade" a líderes totalitários no poder. No bolsonarismo, a garantia de retorno financeiro para a tolice e a estupidez turbina essa "lealdade".

Obrigado, Denisse Ribeiro, pela comprovação da tese.