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Felipe Moura Brasil

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

As pedras no caminho de Lula e Bolsonaro

Colunista do UOL

17/10/2021 16h39

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Em 29 de maio de 2020, escrevi no Twitter:

"Chegar a 2022 com polarização viva, para empurrar antipetistas a votarem em Bolsonaro, sempre foi a meta dos flanelinhas da militância bolsonarista. Por isso, queriam Lula livre. Por isso, tentam assassinar a reputação de qualquer pessoa independente, que expõe males dos 2 lados."

Neste domingo, 17 de outubro de 2021, quase 17 meses depois, a Folha confirma minha análise com a notícia: "Auxiliares defendem que Bolsonaro 'paz e amor' mire no voto da terceira via para 2022". Sobre o abandono da retórica golpista, o jornal informa:

"Com o novo tom, auxiliares avaliam que Bolsonaro pode se apresentar nas eleições como alternativa palatável a eleitores da centro-direita. A expectativa é que, caso nenhuma opção da terceira via decole, esse público acabará abraçando Bolsonaro diante da possibilidade da volta do ex-presidente Lula. A principal aposta é tentar reeditar 2018, quando o mandatário se beneficiou do antipetismo disseminado entre esses eleitores."

Lula já encontrou em Ciro Gomes, sob a direção do ex-marqueteiro petista João Santana, um obstáculo a ser superado em seu caminho rumo ao centro, a partir de sua base fiel à esquerda; Bolsonaro terá obstáculo análogo no caminho inverso, a partir de sua base fiel à direita, caso Sergio Moro assuma a candidatura presidencial pelo Podemos, ainda disposto a formar chapa única - encabeçada por quem estiver melhor nas pesquisas até o primeiro trimestre do ano eleitoral - com Luiz Henrique Mandetta e Eduardo Leite, adversário de João Doria nas prévias do PSDB em 21 de novembro.

O aumento de 4 pontos na pesquisa Genial/Quaest, de 25% para 29%, do eleitorado que não votaria nem em Lula nem em Bolsonaro aponta um espaço com o qual a terceira via, se não padecer da própria fragmentação e da potencial pulverização dos votos, poderia desbancar pelo menos o atual presidente no primeiro turno.

Não é preciso ser um gênio da publicidade ou do marketing político para notar que, de todos os ideais de valor positivo, a Justiça seria o mais natural a servir de bandeira de campanha para um ex-juiz e ex-ministro da... Justiça; e que a defesa de um Brasil mais justo transcende a esfera jurídica do combate à criminalidade, abrangendo o combate à fome, o acesso a educação e saúde de qualidade, e demais necessidades nacionais a serem apontadas em um projeto de país, elaborado com lideranças de outras áreas.

Mas mostrar aos brasileiros, de forma simples e prática, que injustiças econômicas, sociais, educacionais e sanitárias também decorrem da corrupção moral dos detentores do poder e de sua busca egocêntrica de privilégios é fundamental para tirar o debate da disputa ideológica diversionista e transferi-lo para o embate entre decência e indecência, moralidade e imoralidade, honestidade e desonestidade, inclusive em relação aos fatos - refutando o negacionismo do mensalão e do petrolão, das rachadinhas e da pandemia, a despeito das blindagens conferidas por apaniguados políticos no STF e na PGR. É nesse terreno que Bolsonaro tem problemas em atingir Moro sem ajudar Lula, porque a maior cartada bolsonarista contra o petista é a corrupção sentenciada pelo ex-juiz.

Ciro já recolocou a corrupção do PT e a incompetência de Dilma Rousseff no colo de Lula; e Moro ainda pode colocar no de Bolsonaro, entre outros estelionatos eleitorais e descasos, o desmantelamento do combate à corrupção e à improbidade administrativa, mostrando como bolsonarismo e lulismo, unidos até na tentativa de destruir a independência do Ministério Público, são duas faces da mesma moeda sem valor.

Ciro e Moro são pedras no caminho eleitoreiro de Lula e Bolsonaro rumo ao Centro, porque falam com conhecimento de causa sobre tudo que ambos lutam para esconder. E nada incomoda mais lulistas e bolsonaristas que quem é livre para fazer exatamente isto.