O prazer de Aras é pintar e calçar o governo

Na esteira do episódio de Arthur do Val (que acabou saindo do Podemos e do MBL, mas tenta evitar a cassação de seu mandato na Alesp), Augusto Aras gravou vídeo em que lê um teleprompter para tentar explicar sua bizarra homenagem, feita sem teleprompter em 8 de março, à "mulher que tem o prazer de escolher a cor da unha que vai pintar" e "que tem o prazer de escolher o sapato que vai calçar".

"Estou sendo mal compreendido", resmunga, vitimizando-se, o procurador-geral da República escolhido por Jair Bolsonaro para acabar com a Lava Jato. "Hoje, a mulher brasileira tem, sim, a liberdade de fazer escolhas que vão desde a sua intimidade", palavra reiterada por Aras para justificar como íntimos os exemplos que havia dado, "até a forma de participação no mercado de trabalho e na política", áreas adicionadas pelo PGR para contornar o ínfimo, com "f", repertório de escolhas que ele havia conseguido expressar.

Aras alega que "jamais" foi sua intenção "reduzir o papel das mulheres" e, vangloriando-se de ser "implacável contra o preconceito", convida "vocês a conhecer os projetos" desenvolvidos "no Ministério Público brasileiro em favor das minorias". "Muitos deles são voltados ao público feminino."

Eu, Felipe, entendo a tentativa do PGR. O projeto mais famoso desenvolvido em sua gestão, e pelo qual ele foi premiado com a recondução ao cargo, foi a proteção de outra minoria, bem mais poderosa e majoritariamente masculina: a velha política. De tanto blindar Jair Bolsonaro (e, por extensão, Michele, Flávio, Eduardo, Carlos, Fabrício Queiroz e Márcia Aguiar, além de Arthur Lira), Aras ganhou fama até com a Transparência Internacional, cujo relatório "Retrospectiva 2021" apontou seu "alinhamento sistemático" com este mesmo governo que ele tem o prazer de pintar e calçar. Ficou irritado, claro, o PGR.

Mas a dita má compreensão sobre Aras, com ou sem teleprompter, é sempre a melhor.