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Felipe Moura Brasil

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro rasga plano de governo no MEC

O presidente Jair Bolsonaro (PL) ao lado do ministro Ciro Nogueira (PP), da Casa Civil - Palácio do Planalto
O presidente Jair Bolsonaro (PL) ao lado do ministro Ciro Nogueira (PP), da Casa Civil Imagem: Palácio do Planalto

Colunista do UOL

14/04/2022 12h14

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Escrevi no Twitter em 13/9/2020:

"Para o Centrão bolsolulista, tanto faz Lula ou Bolsonaro. Menos Moro".

"Ou", como falei dias depois, "qualquer outro que seja independente e tenha um histórico de combate à corrupção".

Hoje, passados 19 meses, a análise se repete em colunas na imprensa. O Brasil não saiu do lugar. O que saiu foi dinheiro do MEC e do orçamento secreto para o Centrão.

No slide 47 do plano de governo de Bolsonaro apresentado em 2018 ao TSE, lia-se que "o Governo Federal foca mais no ensino superior, os governos estaduais na educação média/técnica, e os Municípios no ensino fundamental". "Precisamos evoluir para uma estratégia de Integração, onde os três sistemas dialoguem entre si."

Na Presidência, Bolsonaro fez os sistemas dialogarem entre si por meio de pastores que, atendidos a seu pedido pelo então ministro da Educação, Milton Ribeiro, buscavam trocar por propina o acesso de prefeitos à pasta, para obtenção de verbas federais.

Slide 2: "Propomos um governo decente, diferente de tudo aquilo que nos jogou em uma crise ética, moral e fiscal. Um governo sem toma-lá-dá-cá, sem acordos espúrios".

Na Presidência, Bolsonaro disse a Abraham Weintraub, segundo o próprio ex-ministro: "Você vai ter que entregar o FNDE para o Centrão". E depois que o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação foi entregue para Marcelo Ponte, ex-chefe de gabinete de Ciro Nogueira, choveram vantagens a redutos e aliados de Nogueira e Arthur Lira.

Alguns exemplos são as "escolas fake" a serviço de propaganda eleitoral no Piauí e a contratação de uma empresa de Alagoas para fornecer kits de robótica a prefeituras. Detalhe: a empresa adquiriu unidades por R$ 2.700 de um fornecedor do interior de São Paulo e vendeu para o poder público por R$ 14 mil - ou seja: 420% de diferença.

Slide 35: "Transparência e Combate à Corrupção são metas inegociáveis".

Como presidente, Bolsonaro impôs um sigilo centenário sobre seus encontros com os pastores lobistas do MEC e ainda tripudiou da própria falta de transparência, ao ser questionado por um eleitor no Twitter sobre o hábito de esconder "todos os assuntos espinhosos/polêmicos do seu mandato": "Em 100 anos saberá", respondeu.

Em outras palavras: o presidente nega a corrupção presente enquanto transfere o acesso a caminhos de prova somente para os historiadores do próximo século. É a versão bolsonarista prática do truque retórico dos lulistas, segundo os quais o mensalão seria futuramente refutado pela história. Em 2013, batizei de "estratégia Verissimo" essa negação da verdade comprometedora por meio do apelo a um futuro revisionismo supostamente redentor. Se dependesse do PT, as manobras revisionistas do STF no caso do petrolão já teriam chegado para aliviar, também, a imagem dos mensaleiros - um deles, aliás, Valdemar da Costa Neto, o dono do PL, atual partido de Bolsonaro.

Se o presidente conta com Nogueira, Lira e Valdemar, além dos senadores do Podemos (Oriovisto Guimarães e Alvaro Dias) contrários à CPI do MEC, Lula conta com Gilberto Kassab (sem candidato oficial) no PSD, Renan Calheiros (sabotando Simone Tebet) no MDB, ACM Neto (sabotando Sergio Moro) na União Brasil e o ministro Bruno Dantas (perseguindo Moro e Deltan Dallagnol) no partidarizado TCU.

A divisão do Centrão bolsolulista, no entanto, é relativa. Para a maior parte dele, tanto faz Lula ou Bolsonaro e, para a menor, preferir um não impede a adaptação ao outro.

O certo, com toda essa gente, é que a "crise ética, moral e fiscal" continuará.