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Felipe Moura Brasil

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro apanha da chapa Lula-Dirceu?

Colunista do UOL

13/06/2022 10h56

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Seis dias após minha constatação de que José Dirceu articula estratégias da campanha lulista, O Globo publicou a reportagem "Dirceu volta à cena em articulações eleitorais na pré-campanha de Lula", confirmando que o mensaleiro, também condenado no âmbito da Lava Jato, "costura acordos em palanques regionais, coleciona encontros com atores principais da política nacional e opina até nas movimentações de Alckmin".

Dirceu, que "passou, no total, mais de quatro anos na cadeia desde 2013 em diferentes períodos", recebeu mais de 15 milhões de reais de propina e lavou mais de 10 milhões de reais, de acordo com documentos somente do processo em que teve sua condenação mantida pela Quinta Turma do STJ, com pena fixada em 27 anos e 1 mês de prisão, pelos crimes de associação criminosa, corrupção ativa e lavagem de dinheiro. "Em outro processo", lembra o jornal, "ele foi condenado em segunda instância a 30 anos de prisão. Em ambos os casos, recorre em liberdade. A defesa alega prescrição dos crimes para anular as sentenças", assim como fez a de Lula no caso do triplex do Guarujá.

Apesar de tudo, a potencial volta de Dirceu às sombras do poder não enrubesce a base do PT, nem a ala lulista da imprensa que promove a narrativa da luta entre 'democratas' e golpistas. O ex-ministro "sabe que muitas vezes ajuda Lula ao ficar distante" e "tem evitado conversas diretas com o ex-presidente, como forma de preservá-lo", mas, para alguns aliados, "é chegada a hora de Dirceu assumir publicamente o papel de articulador político da pré-candidatura de Lula, até como uma forma de se antecipar aos ataques que partirão dos bolsonaristas quando a campanha começar".

Ainda que possam render pontos, a eficácia desses "ataques" - a princípio, constatações da corrupção petista - ficou comprometida pelos telhados de vidro de Jair Bolsonaro e seus filhos. A atuação do presidente para blindar a família contribuiu não só para a impunidade geral, mas também para a anestesia moral do eleitorado em relação a roubalheiras passadas. Da mesma forma, a rejeição a Bolsonaro facilita o trabalho de Dirceu em reduzir a eleição de 2022 a um plebiscito entre 'ele sim' e 'ele não', no qual apenas Lula, atualmente em folgada vantagem, encarnaria esta última alternativa. Até na pesquisa realizada pela FSB, que tem contratos com o governo, o presidente perde no primeiro turno por 12 pontos de diferença (32% a 44%) e, no segundo, por 18 (36% a 54%).

É justamente em razão da possível derrota de seu candidato que os militares - em vez de cuidar das áreas conflagradas da Amazônia onde atuavam Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips - turbinam os ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas, rompendo um silêncio de 25 anos durante os quais aceitaram o mesmo sistema, deitados em berço esplêndido desde 1996. O TSE confirmou à Folha que "não recebeu contribuições anteriores a 2021 do Ministério da Defesa, a fim de aperfeiçoamento do processo eleitoral informatizado". Quando recebeu, na verdade, acusações rasteiras e confusões conceituais, disfarçadas de "questionamentos", refutou uma por uma, levando o ministro Paulo Sérgio Nogueira a resmungar que "as Forças Armadas não se sentem devidamente prestigiadas".

O ex-tucano Geraldo Alckmin é um vice de fachada na chapa Lula-Dirceu, contra a qual uma direita honesta teria artilharia moral de sobra; mas sobrou ao bolsonarismo apelar para teorias da conspiração e vitimismo, preparando o território nacional para a balbúrdia.