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Acaba a ocupação dos EUA no Afeganistão, mas não a guerra
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Nos últimos dias assistimos, após 20 anos de ocupação, a retirada definitiva dos norte-americanos do Afeganistão: a guerra mais longa dos Estados Unidos e também uma das mais custosas de sua História.
Em meio a críticas, o presidente Joe Biden tem buscado defender a posição de seu governo, reivindicando para si a coragem da decisão e buscando assumir responsabilidades sobre os encaminhamentos e consequências da execução.
Apesar das lideranças norte-americanas procurarem enfatizar, em todas as ocasiões, que pretendem tratar a saída do Afeganistão como um ponto final do conflito, na prática, há indícios que sugerem o contrário.
O mundo pós 11 de setembro evidenciou a capilaridade de forças transnacionais, como é o caso do terrorismo. Também revelou o desafio de lidar com ameaças difusas e desterritorializadas.
A decisão de invadir o Afeganistão, em 2001, repousava sobre a premissa de que monitorar de perto unidades consideradas desestabilizadoras e vulneráveis à ação de redes terroristas representava uma oportunidade de conter os potenciais danos que essas redes poderiam causar.
Em outras palavras, a meta era, pela ótica norte-americana, destruir organizações terroristas de alcance global e atacar sua liderança, comando, controle, comunicação, suporte material e financeiro, pois essa seria uma forma de afetar sua habilidade de planejar e operar internacionalmente.
Sair do Afeganistão, portanto, pode representar uma mudança tática de combate ao terror, mas não representa, nem de longe, o fim da guerra. Isso porque não há essa opção sobre a mesa.
No mundo do século XXI, de fluxos intensos e das chamadas "guerras assimétricas", nenhuma potência pode efetivamente se permitir ignorar a realidade. A condição, nos tempos de hoje, é de alerta e vigilância constantes. O conflito é permanente e o combate às ameaças envolve variadas estratégias.
Se, por um lado, ao sair do Afeganistão, os Estados Unidos passarão a apostar no uso de tecnologia e inteligência para monitoramento de potenciais intimidações, por outro lado, sob essas circunstâncias, perderão o contato com a realidade de seus informantes e de suas redes.
Não está claro qual será a conduta do Talibã dentro e fora do país. Vale lembrar, inclusive, que, segundo uma estimativa divulgada pelo congressista republicano Jim Banks, os Estados Unidos teriam deixado para trás cerca de US$ 85 bilhões em equipamentos militares.
Tampouco será possível deixar de lado ações de contra insurgência envolvendo outros grupos locais, como é o caso do Estado Islâmico. No mesmo sentido, será importante analisar o entorno geopolítico da região e como países como Paquistão e Irã se comportarão, além de potências como China e Rússia.
Biden tem razão ao afirmar que a presença no Afeganistão não se justifica e nem se sustenta politicamente. Apesar disso será levado à necessidade de reconhecer que, diante de atores não estatais e de seus renovados desafios, embora tenha dado cabo, oficialmente, da ocupação do país, isso não significa necessariamente o encerramento da guerra.
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