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Fernanda Magnotta

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Inflação e dívida pública serão desafios-chave para planos de Biden

Dólar, fechamento, bolsa, ibovespa, cotação - Yuriko Nakao/Reuters
Dólar, fechamento, bolsa, ibovespa, cotação Imagem: Yuriko Nakao/Reuters

Colunista do UOL

25/11/2021 04h00

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As notícias dos últimos dias dão conta de reportar que os Estados Unidos decidiram, em uma ação internacional coordenada, liberar 50 milhões de barris de petróleo do Strategic Petroleum Reserve, um estoque de combustível de emergência mantido pelo Departamento de Energia daquele país. O intuito é aumentar a oferta do produto e, dessa forma, promover a queda dos preços no mercado internacional.

Essa decisão foi anunciada no momento em que os Estados Unidos registraram a maior alta da inflação em mais de 30 anos: 6,2% de novembro de 2020 a outubro de 2021. O desejável é que ela permanecesse dentro do limite de até 2%.

Dados divulgados pelo Bureau of Labor Statistics demonstram que o aumento generalizado de preços no país está fortemente influenciado pela alta dos combustíveis - componentes da inflação relacionados ao setor "energético" teviram, no agregado, um aumento de 30% nos últimos 12 meses. Destaca-se também a escassez de alguns produtos, como os semicondutores, e a falta de mão de obra que contribuem para o agravamento desse cenário.

Com a inflação em alta, diversos novos problemas emergem: além do custo de vida que aumenta e, consequentemente, do poder de compra das famílias que diminui, o FED, Banco Central dos Estados Unidos, se vê pressionado a elevar a taxa de juros.

Paralelamente aos desafios trazidos pela inflação, o atual governo democrata também tem tido de gerir decisões difíceis no campo fiscal. Recentemente a Câmara de Representantes dos Estados Unidos aprovou um projeto que eleva temporariamente a dívida do governo de US$ 28,4 trilhões para US$ 28,9 trilhões.

No final de 2020, a relação dívida/PIB do governo federal ultrapassou 130% - ou seja, a dívida pública era quase um terço maior do que toda a riqueza produzida no país. Apenas como parâmetro, vale citar que ela é maior, hoje, do que era no final da Segunda Guerra Mundial.

Projeções orçamentárias da Casa Branca sugerem que o déficit federal dos Estados Unidos será da ordem US$ 1,8 trilhão no ano fiscal de 2022. Apesar de ser menor do que o registrado no ano fiscal de 2020, último de Donald Trump no poder, quando o déficit federal chegou a somar mais de US$ 3 trilhões, ainda assim pode ser considerado alarmante. Em 2020, os Estados Unidos viviam o auge da crise de coronavírus e o endividamento estava relacionado a medidas emergenciais de contenção da pandemia e seus efeitos.

Manter o ambiente macroeconômico sob controle é importante para Biden não apenas pelos efeitos mais óbvios que já citamos, mas também porque esses são aspectos sensíveis que podem, do ponto de vista político, vulnerabilizar seus planos estratégicos, como é o caso da aprovação e implementação do Build Back Better, sobre o qual já falamos nessa coluna.

O projeto de Biden pode alterar a dinâmica fiscal, e, a depender dos arranjos aprovados, elevar a dívida pública e redimensionar o papel do Estado. Gera, com isso, resistências e desafetos justamente em ano eleitoral que promoverá renovações no Congresso. Sem surpresa, um ano antes, a disputa pelo Senado já tirou do aquecimento líderes como o ex-presidente Barack Obama, que quebrou o silêncio habitual e passou a envolver-se nas campanhas políticas locais. A competição, ainda em 2021, aquece estados-chave como a Pensilvânia, Wisconsin e Ohio.

Há muita água por correr sob essa ponte, até porque diversos desses movimentos econômicos não são permanentes, mas dinâmicos. Em todo caso, não dá para negar a atualidade do bordão: "it's the economy, stupid". Em Biden, está claro que ela será monitorada com lupa.