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Fernanda Magnotta

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Nova crise envolvendo Rússia e Ucrânia pode atrapalhar planos de Biden

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente dos EUA, Joe Biden - Angela Weiss e Alexey Druzhinin/AFP
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente dos EUA, Joe Biden Imagem: Angela Weiss e Alexey Druzhinin/AFP

Colunista do UOL

18/12/2021 04h10

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Temos acompanhado recentemente a emergência de mais uma crise envolvendo Rússia e Ucrânia. Ela ocorre depois que o exército russo concentrou quase 100 mil soldados na fronteira ucraniana sob a ameaça de uma invasão iminente. Especialistas consideram que isso efetivamente possa ocorrer ainda nas próximas semanas.

A instabilidade tem sido uma constante na região pelo menos desde 2014, quando aconteceu a anexação da Crimeia pela Rússia, território até então pertencente à Ucrânia. Agora, a tensão tem novo pico em função de movimentos visando uma possível adesão da Ucrânia à OTAN, a aliança militar que congrega a Europa ocidental e os Estados Unidos.

A Rússia demanda, sobretudo dos norte-americanos, garantias legais de que ex-membros da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) não possam aderir à organização, o que, na prática, afetaria não apenas o eventual ingresso da Ucrânia, mas também a permanência, no bloco, de países como Estônia, Letônia e Lituânia. O governo Putin também exige a remoção de armas nucleares norte-americanas situadas na Europa.

Um novo conflito de grandes proporções não é apenas uma má notícia para a estabilidade do mundo, como um todo, mas também um cenário indesejável para o governo Biden, em particular.

O próximo ano é estratégico para o presidente norte-americano, tanto para a recuperação econômica no contexto ainda pandêmico, como também visando reaver parte do capital político perdido desde a retirada caótica das tropas norte-americanas do Afeganistão. Em novembro de 2022 ocorrerão as eleições de meio de mandato nos Estados Unidos, que serão responsáveis por definir a composição das casas legislativas.

Até o momento, o prognóstico não é auspicioso para o partido do presidente, que corre o risco de perder maioria no Congresso. Esse seria o pior cenário para Biden, tanto do ponto de vista da governança do país per se, quanto pelas dificuldades que os republicanos imporiam no que diz respeito à construção de um legado significativo. Biden precisa garantir apoio nas eleições de 2022 para que os democratas sejam competitivos, na disputa à presidência, em 2024.

Uma nova crise envolvendo a Rússia não apenas seria utilizada, doméstica e internacionalmente, como mote para criticar eventuais decisões do governo Biden, como também dificultaria os planos do presidente norte-americano de "set the agenda" (em português, "definir a agenda").

De maneira recorrente, nos últimos anos, diferentes administrações dos Estados Unidos têm tido dificuldade de liderar a inserção internacional do país de acordo com sua própria pauta estratégica. Na prática, embora cheguem ao poder cheios de ideias e propostas de renovação das credenciais norte-americanas, os presidentes têm tido dificuldade de ater-se à sua própria gama de prioridades, uma vez que crises exógenas ou reminiscências aleatórias da geopolítica tradicional colocam a política externa dos Estados Unidos de joelhos e fazem dela, muitas vezes, um conjunto desencontrado de ações reativas e emergenciais.

Para quem se interessa por acompanhar a realidade internacional há uma luz amarela de alerta que pisca reluzente no caso Rússia-Ucrânia. De Washington, ela já é vista com muita preocupação.