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Uso de armas nucleares na Ucrânia golpearia de morte a ordem internacional
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Desde o início da guerra na Ucrânia temos acompanhado a preocupação de líderes mundiais em relação a uma ameaça nuclear. Na última semana, o alerta veio tanto de William Burns, da agência de inteligência dos Estados Unidos, a CIA, quanto do próprio presidente ucraniano Volodimir Zelensky. Questionado sobre o assunto por uma rede de televisão, Zelensky reconheceu que estava aflito com o tema. Disse que, segundo sua visão, "todos os países deveriam estar preocupados". Burns, dias antes, havia afirmado que, se desesperado, o governo russo poderia fazer uso de armas nucleares de baixa potência.
Burns referia-se ao que os especialistas chamam de "armas táticas". Diferente das armas ditas "estratégicas", elas possuem menor alcance e menor intensidade explosiva. Também possuem meios de entrega distintos. Não têm alcance intercontinental e apresentam capacidade destrutiva menos abrangente. Ainda assim, são armas cujo uso representaria não apenas danos significativos à Ucrânia, como também o início de uma nova fase do conflito.
Quando o assunto são armas nucleares, a discussão inclui não apenas o tamanho do arsenal de um país, mas, principalmente, sua disposição em utilizá-lo, e quais critérios adota para tanto. A Rússia não só possui o maior estoque de ogivas do mundo (estima-se que algo entre 5 a 6 mil), como também orienta o seu uso a partir de uma doutrina vaga e imprecisa. Os documentos oficiais do país falam em emprego apenas diante de "ameaça existencial". Nesse sentido, deixam espaço para acomodar diferentes narrativas e interpretações quanto ao que seriam riscos que afetam a sobrevivência do Estado.
Não à toa, lideranças ocidentais, sobretudo norte-americanas, têm descrito, já há alguns anos, os critérios russos para a utilização de armas nucleares a partir da expressão "escalar para desescalar". Trata-se da percepção de que o governo Putin estaria disposto a utilizar parte do arsenal tático para conduzir ataques nucleares pontuais como forma de forjar o eventual recuo de adversários e, por consequência, compelir o outro lado a negociações que sejam mais favoráveis aos russos.
Se confirmado, um movimento desse tipo representaria não apenas um risco elevado para civis ucranianos, como também duas outras coisas que é preciso ter em mente: 1) o prenúncio de uma escalada sem precedentes para o conflito, já que a OTAN seria pressionada a reagir de modo proporcional; e 2) o golpe de morte que coroaria a já generalizada crise das instituições multilaterais.
As armas nucleares são consideradas a última fronteira da política global. Desde pelo menos 1945, os códigos internacionais tentam, ao máximo, restringir o uso desse tipo de recurso. A própria expectativa dos países detentores dessas armas é de que as mantenham pelo simples fato de que, ao fazê-lo, imaginam que não serão desafiados a utiliza-las. Trata-se da lógica da dissuasão. As armas nucleares são uma resposta não apenas material, mas principalmente simbólica, ao dilema de segurança existente no mundo anárquico. Quando deixam de ser vistas desse modo para se tornarem apenas "mais um recurso a disposição", oferecem danos sem precedentes não apenas à quem sofre com eventuais ataques, mas denotam violência grave contra toda forma de agir, pensar e sentir dentro do sistema internacional. São, portanto, a expressão máxima da barbárie humana.
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