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Necessidades pragmáticas expõem contradições de Biden no Oriente Médio
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Como temos acompanhado, Biden visita, nessa semana, o Oriente Médio. Nos últimos dias, passou por Israel e Palestina. Hoje desembarca na Arábia Saudita. O objetivo central da viagem é, segundo o próprio governo, estabelecer renovadas alianças para conter, do ponto de vista geopolítico, o Irã, e, ao mesmo tempo, encontrar meios para tentar reduzir os preços dos combustíveis nos Estados Unidos, considerados os principais responsáveis pela inflação recorde pela qual o país passa - 9,1%, a maior em mais de 40 anos.
No caso do conflito israelo-palestino, além das cobranças oriundas desde o estabelecimento dos Acordos de Abraão, pelo governo Trump, o momento é particularmente tenso em função das acusações relacionadas ao assassinato da jornalista palestina-americana Shireen Abu Akleh. Palestinos imputam a responsabilidade por essa morte a israelenses e criticam a atuação dos Estados Unidos em relação ao caso.
No que diz respeito à Arábia Saudita, a situação é ainda mais delicada. Além de Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro do país, ter sido vocal apoiador de Trump nos últimos anos, ele foi classificado, pelo próprio presidente Biden, ainda durante a campanha, como um ditador a ser isolado. Na ocasião, Biden chegou a referir-se à Arábia Saudita como um pária internacional. Entre os principais fatores que motivaram essa manifestação estavam perseguições e mortes de críticos e opositores, incluindo do jornalista Jamal Khashoggi, e a guerra empreendida pelos sauditas no Yemen, uma das mais sangrentas da atualidade.
Desde que anunciou a viagem, Biden tem, sistematicamente, tentado justificar essa decisão. Em recente artigo publicado no The Washington Post, ele afirmou que vê os recursos energéticos da região como estratégicos para contornar os efeitos globais causados pela crise entre Rússia e Ucrânia no que diz respeito a abastecimento, e que o engajamento dos Estados Unidos com países dessa região contribui para a estabilidade e reduz o risco de violência futura contra o país.
Apesar do esforço retórico do presidente, o fato objetivo é que Biden opta, como já fizeram inúmeras outras administrações dos Estados Unidos, por um olhar seletivo em relação à Arábia Saudita. O presidente enfrenta uma grave crise de popularidade, com índices de aprovação decrescentes e alarmantes, no momento em que justamente precisa salvaguardar a competitividade dos democratas nas eleições legislativas de novembro desse ano. Deste modo, fecha os olhos para sua própria agenda de valores, incluindo graves violações de direitos humanos, em nome de interesses políticos de curto prazo.
É importante lembrar que a Arábia Saudita é o principal produtor de petróleo do mundo e têm grande influência na OPEP. Biden, sem surpresa, portanto, deseja que os sauditas aumentem a produção para contribuir na queda internacional dos preços e o controle inflacionário mundo afora. Em busca desse objetivo, no entanto, o presidente norte-americano faz uma aposta arriscada. Primeiro, porque não há sinais claros de que os sauditas estejam interessados nesse tipo de agenda. Segundo, porque essa incursão estimula ainda mais a polarização e a fragmentação dentro do próprio partido democrata, podendo corroer bases de apoio importantes para Biden. Terceiro, porque compromete a autoridade moral que o presidente gosta de reforçar como componente central de sua política externa. Outra vez a política internacional parece ser muito mais sobre politics do que sobre policy.
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