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Fernanda Magnotta

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por um projeto de Brasil que não trate política como entretenimento

Candidatos no debate da Rede Globo - 29/09/2022 - Globo/ João Miguel Júnior
Candidatos no debate da Rede Globo - 29/09/2022 Imagem: Globo/ João Miguel Júnior

Colunista do UOL

30/09/2022 09h50

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Chegamos às vésperas da eleição presidencial no Brasil, todos de ressaca, exaustos pela exposição à tanta baixaria. Fomos capturados para dentro de campanhas que, nos tempos das redes sociais, privilegiam recortes maliciosos e conteúdos que dinamizam suas próprias bolhas, mas que dedicam pouco espaço a discutir um projeto de Brasil para o futuro.

A culpa disso é de todos aqueles que estimulam os próprios líderes a se comportarem como apresentadores de programa de auditório. Presidente não é feito para "mitar"; é feito para conceber, negociar e implementar políticas públicas que beneficiem o interesse coletivo.

Temos muito chão pela frente e os desafios não param de se multiplicar no horizonte. É urgente abrir canais para uma reconciliação entre os diversos "Brasis", tanto quanto é urgente criar condições para resgatar a nossa reputação e credibilidade no campo internacional.

Um projeto de país exige diálogo, temperança, trabalho diuturno e a percepção de que o conhecimento é o ativo mais valioso de uma sociedade. Para o Brasil do futuro, precisamos nos deitar sobre o divã e discutir questões menos emocionantes, mas realmente substantivas e complexas. Deixo aqui a minha sugestão de pauta:

1) Como criar meios para blindar e fortalecer a nossa democracia, as nossas instituições e os valores liberais, combatendo a desinformação, o negacionismo, o populismo e o obscurantismo;

2) Como promover, de forma consistente, reformas econômicas que promovam a melhoria da qualidade de vida das pessoas, o combate à pobreza e à fome, bem como o aumento da competitividade internacional do país;

3) Como combater o racismo, o nacionalismo xenófobo e o protecionismo;

4) Como elevar a segurança jurídica do país e avançar no cerco contra a corrupção de todos os tipos;

5) Como promover uma inserção internacional que diversifique parceiros e seja pragmática, com foco nos interesses nacionais, em seu projeto de desenvolvimento de longo prazo e nas convergências possíveis;

6) Como retomar o protagonismo brasileiro na América Latina, sobretudo junto aos mecanismos de integração regional;

7) Como fazer do Brasil uma voz respeitada para liderar o movimento de reformas das instituições internacionais em busca de uma ordem mais plural e representativa;

8) Como aprofundar a cooperação científico-tecnológica e incluir o Brasil na revolução 4.0;

9) Como desenvolver projetos e parcerias no campo do meio ambiente, sobretudo no que tange à Amazônia e a preservação da biodiversidade, bem como na gestão das mudanças climáticas, energias limpas e agricultura sustentável.

10) Como recondicionar a burocracia especializada, dentro do governo, valorizando talentos e a competência dos quadros técnicos, e aproximando-a de outros stakeholders relevantes da sociedade civil rumo à um processo de tomada de decisão mais descentralizado e inclusivo.

Um país que deseja crescer, para ser levado a sério, precisa de muito mais do que frases de efeito no Twitter e vídeos no TikTok.