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Fernanda Magnotta

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sob liderança renovada de Xi, China mira ampliação de seu papel no mundo

Presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping, em Pequim - via REUTERS
Presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping, em Pequim Imagem: via REUTERS

Colunista do UOL

19/03/2023 08h54

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Recém reeleito para um terceiro mandato, depois de ter alterado a legislação interna para poder permanecer no poder, Xi Jinping parece cada vez mais disposto a ampliar as ambições da China em matéria de inserção internacional. Visto como uma figura forte e centralizadora, ele tem implementado uma série de reformas que revisitam o papel da China no mundo desde que chegou ao poder, em 2013.

Sob sua liderança, o país tem passado por um significativo processo de modernização econômica e busca por desenvolvimento, com foco crescente na inovação e no aumento da influência global da China. Entre os principais projetos a serem destacados estão a "Belt and Road Initiative", que busca expandir a presença chinesa por meio do financiamento e construção de infraestrutura em países de todo o mundo, e o "Made in China 2025", um plano estratégico que envolve investimentos significativos em áreas como inteligência artificial, robótica, tecnologia da informação, materiais avançados e biotecnologia, mirando transformar a China em uma referência em tecnologia e manufatura de alto valor agregado.

Além disso, o governo de Xi, sob forte viés nacionalista, tem trabalhado na costura de alianças militares, sobretudo regionais, e expandido sua presença no mar do Sul da China e em outras áreas disputadas do globo, ao mesmo tempo em que expande laços na África e América Latina, por exemplo. Há poucos dias, a China estampou manchetes do mundo todo depois de um feito considerado histórico no Oriente Médio: os chineses mediaram, de forma bem-sucedida, um acordo entre Arábia Saudita e Irã, que concordaram com a retomada de relações diplomáticas depois de sete anos de tensões e relações interrompidas.

Além disso, é importante ter que em vista que o presidente chinês irá visitar a Rússia nos próximos dias para discutir, segundo manifestação oficial do Kremlin, "questões atuais de desenvolvimento adicional das relações de parceria abrangente e cooperação estratégica entre a Rússia e a China". Isso ocorre após a China ter divulgado um plano de 12 pontos para acabar com a crise na Ucrânia, que recebeu críticas dos Estados Unidos e da OTAN.

Por fim, a China de Xi também tem propagado, cada vez mais, a visão de uma ordem internacional que deve ser marcada pelas características de um mundo cada vez mais multipolar. Se, no passado, a diplomacia chinesa adotava discurso apaziguador e abnegativo de conflito no trato com os Estados Unidos e buscava não estimular a narrativa de fosse uma potência dissidente, nos últimos anos isso não é mais verdade. Sem dúvida, uma das mais gritantes manifestações disso ocorreu recentemente, em fevereiro de 2023, com a publicação do relatório "US Hegemony and Its Perils" pelo Ministério de Relações Exteriores da China.

No documento, o governo chinês expõe o que considera uma série de abusos hegemônicos dos Estados Unidos nos campos político, militar, econômico, financeiro, tecnológico e cultural, e destaca os perigos dessas práticas para a paz e o bem-estar mundiais. O material alerta para o fato de que, desde a Segunda Guerra e a Guerra Fria, os Estados Unidos têm interferido nas questões internas de outros países e promovido guerras sob o pretexto de promover a democracia, a liberdade e os direitos humanos. O relatório chegou a convidar os norte-americanos a "examinarem criticamente o que fizeram" e "abandonar sua arrogância".

Se no início dos anos 2000, políticos e tomadores de decisão dos Estados Unidos acreditavam que seria possível "enquadrar" a China, vinte anos depois, tudo indica que os ventos que sopram do Oriente devem levar a política internacional para outro lugar.