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Fernanda Magnotta

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Em meio a acusações, Trump traz à tona fisiologismo do partido republicano

Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos - Alex Wong/Getty Images
Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos Imagem: Alex Wong/Getty Images

Colunista do UOL

18/06/2023 07h29

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Como todos sabem, os processos legais que envolvem Donald Trump abrangem uma ampla gama de questões. Eles incluem alegações de fraude e evasão fiscal, bem como casos relacionados a sua conduta sexual. Além disso, Trump enfrenta investigações relacionadas ao seu mandato, como por alegações infundadas de fraude eleitoral, por incitar a insurreição após a invasão do Capitólio em janeiro de 2021, e por reter e/ou destruir documentos sigilosos e sensíveis do governo que incluíam informações sobre segurança nacional.

Nessa última semana, não à toa, Trump se dirigiu a um tribunal de justiça nos Estados Unidos para uma audiência em que foi formalmente acusado no caso dos documentos classificados. Foram 37 acusações criminais, que incluem graves violações à lei de espionagem, conspiração e obstrução de justiça. O episódio marcou mais uma quebra de paradigma nos Estados Unidos: Trump é o primeiro ex-presidente do país a ser indiciado criminalmente, agora na justiça federal.

Se, do ponto de vista jurídico, ele será condenado, só o tempo (e o devido processo legal) dirá. A pergunta mais difícil de responder, no entanto, ainda parece estar relacionada ao campo político: até quando o Partido Republicano estará disposto a apoiar Trump?

Até o momento, temos visto, na maior parte do tempo, manifestações hesitantes das principais lideranças do partido em condenar os excessos de Trump. A tentativa é de politizar as acusações contra o ex-presidente e transformar os processos criminais em matéria eleitoral.

Sabemos que, em geral, a decisão de um partido político por abandonar o apoio a um candidato costuma ser baseada em uma avaliação cuidadosa de seus interesses, do comportamento de sua base de eleitores e das circunstâncias políticas em jogo.

No caso da relação entre Trump e os republicanos, a lealdade parece ancorada simplesmente ao bom desempenho do ex-presidente nas pesquisas, já que mesmo diante das acusações, ele é considerado o favorito para as prévias do partido e até para as eleições gerais de 2024. As pesquisas mais recentes sugerem que Trump supera seu adversário republicano mais próximo Ron DeSantis por quase 40 pontos. Na disputa contra Biden, as pesquisas mostram um cenário apertado, mas, em alguns casos, o ex-presidente é apontado como possível vencedor, ainda que por estreita margem.

Tudo isso não é novo. No passado, essa foi exatamente a fórmula para que os caciques do mainstream do partido engolissem Trump, "apesar de". Desde 2016 o elo que manteve unidos Trump e o GOP não foram exatamente valores ou ideologias, mas o senso de oportunidade, a busca por sobrevivência política e por perpetuação no poder.

Trump fragmentou ainda mais a já pulverizada classe política norte-americana e fortaleceu alas mais radicais do partido, estimulando a polarização em um país já dividido. Tornou, com isso, os republicanos reféns de si mesmos. Ao que tudo indica, não bastará, para romper esse ciclo de apoio fisiológico, um julgamento moral ou condenações criminais frente a tantos escândalos.

No jogo político dos interesses materiais, apenas a mudança de opinião pública e/ou uma mudança na dinâmica eleitoral parecem poder levar o partido republicano a reconsiderar seu apoio a Trump e a direcionar seus recursos para outro candidato que identifiquem ter maior chance de sucesso nas urnas.

Se usualmente nos perguntaríamos "até quando um partido estará disposto a carregar um candidato problemático?" - uma bagagem que vai ficando mais e mais pesada a cada dia - talvez agora precisemos nos perguntar também se não é a mala quem carrega o partido.