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Fernanda Magnotta

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Política 'morde e assopra' na relação EUA-China tem novo capítulo

Janet Yellen em visita a Pequim - MARK SCHIEFELBEIN/AFP
Janet Yellen em visita a Pequim Imagem: MARK SCHIEFELBEIN/AFP

Colunista do UOL

09/07/2023 09h36Atualizada em 09/07/2023 09h36

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Terminou nesse domingo a visita de secretária do Tesouro dos Estados Unidos Janet Yellen à China. Trata-se de mais uma importante viagem de alto nível de autoridades norte-americanas ao país em poucas semanas.

Antes dela, também ocorreu o encontro entre o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, e o principal oficial de política externa da China, Wang Yi, em Viena, na Áustria, além de uma ida de William Burns, diretor da CIA, à China para manter canais de inteligência abertos.

Também teve lugar um encontro entre Xi Jinping e Antony Blinken, secretário de Estado do governo Biden. A visita de Blinken a Pequim havia sido cancelada no início do ano depois que forças norte-americanas abateram um balão chinês sob acusação de espionagem.

Esse movimento intensivo de viagens reflete os esforços da diplomacia norte-americana em restabelecer contatos significativos entre os dois países. Isso acontece no contexto de uma série de tensões bilaterais que incluem não apenas questões comerciais, mas principalmente interesses geopolíticas e estratégicos.

Os objetivos centrais da visita de Janet Yellen giraram em torno de tentar aliviar as animosidades entre os dois países e criar bases mais estáveis para a relação bilateral. Ela reconheceu que Estados Unidos e China "mantém desacordos importantes", mas defendeu que "devem se comunicar diretamente". Disse, ainda, que "o mundo é grande o suficiente" para acomodar os dois países.

Durante a visita, diversos temas foram tratados. Entre as principais convergências, o compromisso de esforços de cooperação em áreas como mudanças climáticas e a busca por estabilidade financeira internacional.

Entre as agendas mais sensíveis, dois destaques em particular:

  • 1) os últimos movimentos da China no que alguns denominam "guerra dos chips", que envolve retaliações a decisões da administração Biden no campo tecnológico envolvendo semicondutores;
  • 2) o incômodo norte-americano com a "nova lei de contraespionagem" chinesa, que levanta preocupações sobre os efeitos para a atuação de empresas estrangeiras e particularmente norte-americanas naquele país, sobretudo na realização de "due diligences" e consultorias.

A visita de Yellen é importante por alguns motivos. O primeiro é que contribui para diminuir ruídos de comunicação entre os dois países e a probabilidade de uma escalada de conflito indesejada. Segundo, porque leva a Pequim a clara mensagem de que interessa aos norte-americanos gerenciar os riscos envolvidos nessa relação, mas buscando estabelecer uma base mais estável e construtiva para o futuro. Por fim, porque reconhece o óbvio: simplesmente não há disponível, para os Estados Unidos, a opção de "desacoplar" da China, passando a viver à sua revelia. A enorme interdependência entre os dois países não cria condições para a reprodução nos termos de uma "nova Guerra Fria".

O desafio desse século é justamente encontrar ordem (e pontos de contato) no caos.