Fernanda Magnotta

Fernanda Magnotta

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Ucrânia: Novo capítulo beneficia agro brasileiro, mas agrava fome no mundo

A saída unilateral da Rússia do acordo intermediado pela ONU, que permitia o escoamento de grãos ucranianos como milho e trigo por meio do Mar Negro, foi assunto central na última semana para os que acompanham temas geopolíticos. O "acordo de grãos", como ficou conhecido, havia sido negociado em 2022 para conter a inflação mundial causada pela crise no leste europeu.

Além disso, por vários dias consecutivos, a Rússia também apreendeu navios ucranianos e tem realizado ataques contra terminais de grãos na Ucrânia. Os russos afirmam que esses movimentos são uma forma de resposta pelo ataque à Ponte da Crimeia, cuja autoria atribuem a Kiev.

A situação tem sido acompanhada com atenção no mundo todo, pois representa uma escalada preocupante de tensões entre os dois países, levando a consequências graves no setor alimentício e de transporte marítimo. Não à toa, na última sexta-feira (21), os preços dos contratos futuros de trigo negociados na bolsa de Chicago tiveram seu maior ganho semanal desde a invasão ocorrida em fevereiro de 2022. Os valores do milho também sofreram significativa alteração.

Se, por um lado, isso pode beneficiar os interesses de produtores brasileiros no que tange à exportação de commodities, por outro, deve atingir em cheio o poder de compra da população mais carente no mundo todo.

A crise no leste europeu leva ao aumento do preço das sacas de diferentes produtos em um período que coincide com a colheita em várias partes do Brasil. Com a redução de oferta pela Ucrânia, os países se veem, portanto, obrigados a buscar novos fornecedores, o que beneficia a economia brasileira.

Ao mesmo tempo, porém, para o consumidor final, sobretudo os mais pobres, a pressão inflacionária deve chegar como um forte golpe, afetando direta ou indiretamente sua capacidade de consumir uma série de produtos, a começar pela carne, que deve ficar mais cara muito em breve.

Não bastassem os efeitos de curto prazo, esse tipo de situação é delicada porque também expõe vulnerabilidades ligadas à insegurança alimentar que conflitos militares trazem à tona.

Em situações como essas, muitas pessoas se veem diante de incertezas constantes sobre sua capacidade de obter alimentos, o que resulta em um acesso irregular, prejudicando significativamente a qualidade da dieta e a saúde dos indivíduos.

De acordo com um edição de 2022 do relatório The State of Food Security and Nutrition in the World produzido pela ONU, o número de pessoas que enfrentam a fome em escala global aumentou para aproximadamente 828 milhões em 2021, muito provavelmente impulsionados, ainda, pelos efeitos da pandemia de covid-19.

Continua após a publicidade

Esse aumento representa um acréscimo de aproximadamente 46 milhões de pessoas em relação a 2020 e de 150 milhões em relação a 2019. Se somarmos a guerra a seus efeitos, temos evidências ainda mais preocupantes de que o objetivo internacional traçado anos atrás, que era de erradicar a fome e a má nutrição até 2030, talvez esteja cada dia mais longe de ser atingido.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.