Fernanda Magnotta

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Opinião

Duas interpretações de por que os EUA são historicamente leais a Israel

Acompanhamos, ao longo dessa última semana, a viagem do presidente norte-americano Joe Biden a Israel, em meio ao grave conflito que ocorre naquela parte do mundo. Em sua passagem por Tel Aviv, Biden expressou apoio inequívoco ao país e ao seu povo diante dos recentes ataques realizados pelo grupo Hamas. Ele enfatizou o compromisso dos Estados Unidos com a segurança de Israel, anunciou ajuda humanitária para Gaza e a Cisjordânia, e reiterou a importância da busca de uma solução de dois estados para a paz na região.

A viagem de Biden, principalmente em condições tão adversas, reacendeu um velho debate: afinal, por que os Estados Unidos mantêm "lealdade canina" com Israel ao longo da História?

Para além do óbvio - interesses econômicos e tecnológicos, e aliança militar e de inteligência com vistas a busca por vantagens estratégicas no Oriente Médio -, o tema permite revisitar uma discussão profunda sobre o processo de formulação da política externa dos Estados Unidos.

Para fins didáticos, poderíamos organizar as diferentes interpretações dessa relação em torno de duas publicações célebres: o clássico The Israel Lobby and U.S. Foreign Policy, livro publicado por John Mearsheimer e Stephen Walt em 2007, e o recente bestseller The Arc of a Covenant: The United States, Israel, and the Fate of the Jewish People, de Walter Russell Mead, publicado em 2022.

Para Mearsheimer e Walt, grupos de pressão pró-Israel exercem um controle significativo sobre a formulação de políticas dos Estados Unidos em relação ao Oriente Médio, destacando a influência de organizações como o American Israel Public Affairs Committee (Aipac). Os autores argumentam que essa influência compromete a capacidade dos Estados Unidos de buscar uma política externa equilibrada na região e que seja de fato estratégica. Eles afirmam, portanto, que a relação especial entre os dois países pode estar mais alinhada com interesses de grupos lobistas específicos do que com interesses efetivamente nacionais dos Estados Unidos.

De acordo com Mead, por outro lado, o apoio norte-americano a Israel ao longo do tempo repousa sob outras questões. Tem a ver com valores compartilhados e afinidades políticas e culturais que partem dos cidadãos comuns e que se refletem nas escolhas dos diferentes tomadores de decisão ao longo da História. Para o autor, o peso do lobby pró-Israel é superestimado, e o que move os governos dos Estados Unidos na direção da atração com Israel, na verdade, tem a ver com forças que mesclam convicção religiosa e realpolitik. Mead vai do movimento evangélico moderno até a chamada coligação Sunbelt (refere-se a uma região geográfica nos Estados Unidos que engloba os estados do sul e oeste do país e é frequentemente associada a tendências políticas conservadoras) para explicar o racional de sua análise.

Para quem não teve a oportunidade de ler esses dois livros, recomendo muito. Além de fontes respeitáveis, são narrativas acessíveis ao grande público e que ajudam a problematizar, com qualidade, o debate contemporâneo.

Aliás, esses são tempos propícios para voltarmos a pensar na "política da política externa".

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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