Fernanda Magnotta

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Opinião

Biden x Trump 2024: a batalha de gafes e a decadência do debate político

As eleições presidenciais nos Estados Unidos em 2024 prometem ser um dos pleitos mais turbulentos e imprevisíveis da história recente, definindo-se por meio de ao menos três variáveis críticas.

Primeiramente, os resultados de processos e análises judiciais sem precedentes terão um papel significativo, lançando uma sombra de incerteza sobre o processo eleitoral. Além disso, o nível de engajamento e comparecimento às urnas dos eleitores já comprometidos com um determinado candidato será crucial, mas talvez não tanto quanto a habilidade dos candidatos em atrair o voto dos eleitores independentes —, que podem representar, segundo pesquisas, cerca de 40% do eleitorado.

Neste cenário de alta polarização e competitividade, simplesmente "pregar para convertidos" se mostrará uma estratégia insuficiente. A eleição será decidida na margem, com a capacidade de persuadir os indecisos. Caso nada de muito novo aponte no horizonte, será uma eleição, para o cidadão, que implica escolher "o menos pior" — uma eleição decidida na base da menor/maior rejeição.

Em um ano eleitoral com esse grau de complexidade, em que normalmente esperaríamos um debate robusto sobre a condição econômica do país, os desafios sociais enfrentados pelos cidadãos e as escolhas cruciais em política externa, nos deparamos, no lugar disso, com a perspectiva de uma campanha que promete desviar consideravelmente desses temas substantivos.

Em vez disso, podemos nos preparar para uma temporada eleitoral dominada por acusações e insinuações de baixo nível, ataques pessoais e comentários preconceituosos. Esta abordagem marca uma espécie de "déjà vu" em relação às campanhas anteriores, especificamente as disputas de 2016 entre Trump e Clinton e de 2020 entre Trump e Biden. O cenário sugere uma versão revista e ainda mais agravada desses confrontos anteriores.

À medida que se desenha o cenário para uma possível revanche entre Donald Trump e Joe Biden nas eleições presidenciais de 2024, a narrativa preparada pela campanha trumpista aparenta estar claramente focada na saúde física e mental de Biden. Utilizando uma estratégia já conhecida, Trump e seus aliados têm intensificado os ataques, recorrendo a apelidos pejorativos como "Sleepy Joe" e destacando uma série de gafes e momentos embaraçosos do presidente, desde tropeços recorrentes até confusões na hora de se referir a países, como quando Biden misturou ucranianos com iranianos durante uma fala ao Congresso; chamou Kamala Harris, sua vice-presidente, de "primeira-dama"; sofreu uma queda de bicicleta que tornou-se meme nas redes sociais; leu em voz alta instruções de discursos que deveriam ser apenas para si etc.

Ele também já confundiu Camboja com Colômbia durante uma fala pública, terminou um discurso com "Deus salve a rainha" logo após a morte de Elizabeth e chegou a chamar Zelensky de Vladimir, por engano, em dado contexto. Esses incidentes são frequentemente usados para questionar a capacidade de Biden para o cargo, sugerindo que sua idade avançada e potenciais lapsos cognitivos o tornariam inapto para a função.

O curioso, no entanto, é que o histórico de Donald Trump também está repleto de momentos controversos, gafes e comportamentos que já provocaram questionamentos sobre sua própria aptitude para exercer a presidência da maior potência do mundo.

Durante seu mandato, Trump sugeriu absurdos como a injeção de desinfetante como tratamento para covid-19, patrocinou inúmeras teses comprovadamente anticientíficas, que vão de insinuações irresponsáveis sobre as causas do câncer às mudanças climáticas, além de ter incitado violência em diversas ocasiões.

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Enquanto presidente, Trump produziu o enigmático tweet "covfefe", palavra sem sentido, que virou chacota internacional. Recentemente, confundiu Nikki Haley, sua opositora nas primárias republicanas, com Nancy Pelosi, líder do partido democrata. Essa não é a primeira vez que isso ocorre. Ao longo de sua história política, Trump já cometeu vários erros ao mencionar nomes de personalidades importantes, como ao chamar Tim Cook de "Tim Apple", em 2019. Se, anos atrás Trump também viveu especulações sobre sua saúde, particularmente quando exibiu dificuldade para segurar um copo de água com uma só mão, nas aparições públicas de 2024 tem chamado a atenção por discursos desconexos e confusos.

Estamos, indubitavelmente, em uma era em que o recurso às falácias ad hominem não apenas prejudica o debate público sobre as questões que verdadeiramente importam para as pessoas, mas também reforça preconceitos. O etarismo, nesse caso, é grave porque ao rotular alguém pela idade que possui, desabona-se, de maneira superficial, a capacidade, a atividade, e a lucidez de indivíduos cujas habilidades e experiências de vida não podem ser ignoradas e costumam, inclusive, muitas vezes, ser parte importante do que legitima o espaço que ocupam.

Este tipo de abordagem desvia a atenção dos problemas reais que deveríamos enfrentar, transformando a esfera democrática em um simples ringue de vaidades.

Ao priorizar ataques pessoais em detrimento de discussões políticas substantivas, corremos o risco de minar os fundamentos da democracia, substituindo o diálogo construtivo e a busca por soluções por uma competição de insultos pueris e acusações de baixo nível. Perdemos todos.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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