Topo

Jamil Chade

Santos Cruz vê "sensacionalismo" e diz que críticas da ONU não são claras

O general Carlos Alberto Santos Cruz em missão de paz no Haiti - AFP PHOTO - UNITED NATIONS PHOTOS / LOGAN ABASSI
O general Carlos Alberto Santos Cruz em missão de paz no Haiti Imagem: AFP PHOTO - UNITED NATIONS PHOTOS / LOGAN ABASSI

Colunista do UOL

06/02/2020 12h01

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

As auditorias da ONU carecem de objetividade e não tratam da realidade do ambiente operacional. Foi assim que o general brasileiro, Carlos Alberto Santos Cruz, respondeu diante da publicação de uma avaliação interna realizada pelas Nações Unidas sobre a operação de paz que ele comandou na República Democrática do Congo.

Na semana passada, a coluna publicou o resultado de uma auditoria em que se concluía que as forças de paz da ONU no país africano sofreram deficiências consideradas como "críticas".

O exame da operação se refere ao período entre janeiro de 2015 e setembro de 2016. Em mais da metade do tempo avaliado, as forças eram comandadas pelo general brasileiro. Ele ocupou o posto de 2013 a dezembro de 2015, num momento que foi considerado como chave para o conflito.

A auditoria realizada pelo Escritório de Serviços de Supervisão Interna da ONU apontava a falta de levantamentos sobre as operações militares, e ainda o desrespeito à norma que exigia que autoridades civis e de direitos humanos fossem consultadas antes de operações.

Não existia também, segundo as Nações Unidas, a prevenção sistemática de possíveis danos colaterais. Além disso, a frequência de patrulhamento estava abaixo das metas estabelecidas.

Uma semana antes da publicação da reportagem, a coluna procurou o general, que indicou desconhecer a existência da auditoria. Os documentos foram, então, repassados ao militar, com perguntas relacionadas a cada uma das conclusões do informe.

Ele, porém, não deu uma resposta durante os dias que se seguiram, apesar dos contatos mantidos com a reportagem. Após a publicação do material, o militar enviou seus comentários.

De acordo com o general, "a reportagem do UOL, se referindo a mim e à MONUSCO, tem um título sensacionalista que fica por conta da liberdade de expressão do veículo de comunicação".

"A reportagem se baseia num relatório feito entre agosto e outubro de 2016 e que se refere a 2015 e 2016", disse. "Como eu encerrei meu tempo na Missão em dezembro de 2015, não tive oportunidade de ser entrevistado", esclareceu.

Bolsonaro vai pagar preço político muito alto com Moro, diz Santos Cruz

UOL Notícias


"O relatório trata de avaliação de processos. Não é um relatório de dados objetivos - quem, o que, quando, como e por que - e nem de resultados", indicou.

"Por ser um relatório de processos, ele se baseia sob modelo teórico e em aspectos doutrinários, como é normal, e carece de objetividade e de praticidade", explicou.

"Análises teóricas são feitas, normalmente, longe da realidade dos acontecimentos no tempo e no espaço. Os relatórios são importantes para aprimorar processos, mas não tratam da realidade objetiva do ambiente operacional, do momento, das relações pessoais, da urgência de decisões, das adaptações necessárias para responder à dinâmica da continuidade de operações de combate e até mesmo dos resultados obtidos", declarou.

General afirma ter dado ouvidos aos direitos humanos

Santos Cruz ainda indicou que, durante seu comando, o envolvimento de autoridades civis e de direitos humanos na preparação das operações militares existia. "No meu tempo, nunca foram excluídos. Pelo contrário", garantiu.

Ao ser questionado sobre a declaração da ONU sobre a falta de identificação prévia de possíveis danos colaterais nessas operações, ele pediu esclarecimentos. "Favor definir quais as operações em que houveram danos colaterais, quais e quando", escreveu. Na auditoria da ONU, não existem essas informações.

Sobre o patrulhamento abaixo das metas estabelecidas, ele rebateu. "Quando isso aconteceu e aonde? A missão tinha bases operacionais em cerca de 80 diferentes locais. Quando o levantamento foi feito, as tropas estavam distribuídas em 62 locais diferentes com realidades distintas", disse.

Para ele, medida do possível, a operação cumpriu sua missão de proteger a população civil. "É impossível proteger a todos, todo o tempo, em todos os lugares", disse. "Os maiores desafios são a dimensão do país, a fraca presença governamental e o grande número de grupos armados", explicou.

Questionado sobre o fato de a missão ter aceito as recomendações da auditoria, ele comentou. "Isso não é questão de aceitar ou não. Isso é o que se faz regularmente. Na minha nota eu comento como é feita uma avaliação de processo. É útil, mas não é objetiva na prática para indicar quando, o que, como, quem e quando", completou.