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Jamil Chade

Melhor forma de lidar com impacto econômico é atacar vírus, alerta OMS

Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante entrevista coletiva em Genebra -
Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante entrevista coletiva em Genebra

Colunista do UOL

03/04/2020 13h38

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Resumo da notícia

  • FMI diz que mundo já está em recessão e que vai destinar US$ 1 trilhão para governos
  • Prioridade deve ser a de garantir renda e financiar sistemas de saúde
  • Debate entre salvar vidas e salvar a economia é um "falso dilema". "Renda e vidas precisam ser salvas", diz OMS.

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, defendeu que a melhor forma de se evitar o impacto econômico e social da pandemia é atacar o vírus. Em sua coletiva de imprensa nesta sexta-feira, ele destacou como mais de um milhão de casos e 50 mil mortes foram registrados. Mas ele alerta que a crise é muito maior que apenas um tema de saúde e é também um desastre social e econômico.

Nos últimos dias, governos como o do Brasil foram tomados pelo debate se deveriam manter a economia operando ou se as recomendações de distanciamento social sugeridas pela OMS deveriam ser implementadas. O presidente Jair Bolsonaro foi um dos que indicou ser contra uma quarentena mais rígida, abrindo uma crise com os governadores.

Tedros admitiu que as restrições para proteger a população estão tendo um impacto forte sobre a renda. Para ele, porém, não se trata de uma escolha entre a economia e saúde. Governos, segundo o diretor da OMS, precisam proteger "vidas e renda".

No curto prazo, tal impacto pode ser lidado com pacotes sociais e distribuição de alimentos, e até de perdão de dívidas para evitar o "colapso" de economias. Mas, segundo ele, a melhor forma de reduzir o impacto social das restrições é "atacar o vírus". Tedros alerta que isso inclui testar e isolar as pessoas contaminadas, além de um amplo plano de distanciamento social.

Ele também aponta para o risco de que governos retirem de forma rápida demais medidas de quarentena, o que poderia levar à volta da pandemia e impactos econômicos ainda mais severos.

O diretor de operações da OMS, Michael Ryan, insistiu que o mundo precisa usar o período de quarentena para desacelerar as infecções e, assim, reduzir o tsunami de pacientes nos serviços de saúde. Mas também para preparar seus sistemas públicos para o período pós-pandemia.

"Temos de ter cuidado na saída (dessas quarentenas)", disse. "Ao desenhar as estratégias de transição para que a economia volte ao normal, o que precisamos garantir é que haja uma arquitetura dos sistemas de saúde, controle e fortalecer os serviços públicos", defendeu.

Segundo ele, governos terão de decidir se querem conviver com o vírus e reabrir suas economias. Mas, se essa for a escolha, terão de garantir a existência de sólidas redes de apoio e sistemas de saúde. Neste cenário, haveria um "vírus mais controlado".

Caso não haja essa preparação e medidas, o risco é de que governos tenham de voltar a aplicar quarentenas. "Se estivermos em controle (do vírus), podemos proteger nossas economias. As quarentenas são tempos preciosos para estabelecer essa arquitetura, testes e construir resposta. Se fizermos isso, podemos fazer transição para uma vida que seja mais engajada, com mais saude e justiça social", disse.

Caso contrário, porém, a volta de uma pandemia e novas restrições mergulhariam as economias em uma nova crise, ainda mais profunda.

Por isso, para Tedros, o momento é o de financiar de forma importante os sistemas de saúde, garantir recursos para combater o vírus, pagar salários e ter material em hospitais. Isso, segundo ele, permitirá que a pandemia seja controlada.

Recessão.

Num recado claro a lideres de todo o mundo, Kristalina Georgieva, diretora-gerente do FMI e Tedros indicaram que a disputa entre salvar vidas e salvar empregos é um "falso dilema" e defendem a transferência de renda para milhões de pessoas.

"Nunca tivemos uma crise como essa na historia do FMI", disse a diretora-gerente. "Estamos em recessão e é muito pior que a crise financeira global", alertou. "Salvar vidas e salvar renda precisam caminhar de forma conjunta", disse.

Segundo ela, os emergentes são mais afetados e um volume grande de capital deixou os países em desenvolvimento. "Mais de US$ 90 bilhões deixaram as economias em desenvolvimento, bem acima do que vimos na crise de 2008", declarou.

Em uma coletiva de imprensa conjunta, os dois líderes internacionais admitiram que governos estão confrontados com a necessidade de conter a propagação do vírus às custas da paralisação da sua sociedade e economia.

Para a diretora do FMI, o risco sobre os emergentes é especialmente elevado. Segundo ela, poderá haver uma onda de falências e, em certos países, avanços sociais obtidos durante anos podem ser desfeitos. "Renda e vida importam", disse, insistindo que o apoio deve ocorrer ao mesmo tempo para a economia e para salvar vidas.

Entre as medidas que ela defende está a suspensão de um ano de pagamento de serviços da dívida para os países mais pobres.

Num artigo de autoria de ambos publicado também hoje, os diretores da OMS e FMI reforçaram a ideia de que a prioridade é controlar o vírus. "Salvar vidas ou salvar meios de subsistência. Este é um falso dilema — controlar o vírus é, quando muito, um pré-requisito para salvar meios de subsistência", apontaram.

"O curso da crise sanitária mundial e o destino da economia mundial estão inseparavelmente interligados. O combate à pandemia é uma necessidade para que a economia recupere", indicaram.

"Como todos trabalhamos em conjunto, com pouco tempo e recursos finitos, é essencial que nos concentremos nas prioridades certas para salvar vidas e meios de subsistência. O nosso apelo comum é que, numa das horas mais sombrias da humanidade, os líderes têm de se mobilizar desde já para as pessoas que vivem nos mercados emergentes", apelaram.

"O nosso apelo conjunto aos responsáveis políticos, especialmente nas economias de mercado emergentes e em desenvolvimento, é que reconheçam que a proteção da saúde pública e o regresso das pessoas ao trabalho andam de mãos dadas", apelaram os dois líderes.