"Comunicação com exterior tem sido desastrada", diz ex-negociador agrícola
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O comportamento do governo em temas ambientais não se transformou apenas um motivo de críticas entre ativistas de direitos humanos, ambientalistas e povos indígenas. Na semana passada, um dos nomes mais reconhecidos das entidades ruralistas do país, Pedro de Camargo Neto, anunciou sua renúncia do cargo de vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira. O motivo: sua recusa em aceitar a ideia da entidade de dar apoio ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
O chefe da pasta de meio ambiente causou polêmica depois que o vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril foi divulgado pela Justiça. Durante o debate, ele sugeriu que o governo aproveitasse que a imprensa estivesse com as atenções focadas na pandemia para avançar com um processo de desregulamentação ambiental.
A Sociedade Rural, apesar da crise, optou por sair ao apoio de Salles. Mas para seu vice-presidente, tal comportamento era inaceitável.
Camargo Neto já havia sido o presidente da entidade e, no governo de Fernando Henrique Cardoso, liderou dentro do Ministério da Agricultura o processo nos tribunais da OMC contra os subsídios dos EUA e da Europa. Venceu em casos históricos e se consolidou como uma das vozes incontornáveis nos esforços internacionais do Brasil para abrir mercados.
Eis os principais trechos da entrevista:
De que forma o sr. vê a forma pela qual o tema do meio ambiente no Brasil é visto pelo resto do mundo?
O tema meio ambiente é uma prioridade. O Brasil é criticado apesar de ter uma legislação forte e avançada além de um enorme território em melhores condições ambientais do que a maioria dos países entretanto nossos erros tem prejudicado mostrar o que temos de bom.
O estilo beligerante do ministro (Salles) polarizou a questão. A utilização dos recursos provenientes da Noruega para o Fundo da Amazônia poderia ser adequada a nova gestão. Anunciar isso com severas críticas em coletiva de imprensa foi equivocado. Era obrigatório ter dialogado antecipadamente com a Noruega. O atropelo sobre a divulgação de índices de desmatamento do ano passado foi mal conduzida. Qualquer razão que poderia existir ficou perdida na maneira que o vazamento de informações foi contestado. Os índices são técnicos e precisam ser compreendidos e explicados.
Qual será o impacto disso para as exportações do país?
A atual situação exigirá muito esforço na defesa das exportações do Brasil, apesar de tudo que temos de positivo. O desmatamento na Amazônia cresceu. É um território enorme, muito desconhecido por todos ainda, com tipos diferentes de solo e vegetação, e principalmente ocupações diversas. O Ministério do Meio Ambiente é complexo porém as falhas de gestão que assistimos são injustificadas. É essencial uma orientação retilínea. A fiscalização ambiental é historicamente confusa. O preconceito ao produtor gera multas equivocadas e pior do que isso, não enfrentam o cerne dos problemas. Era a oportunidade para corrigir e melhorar.
A comunicação com o exterior tem sido desastrada. A participação do Brasil na Conferência do Clima na Espanha continha propostas que poderiam ser interessantes, não fosse a falta de credibilidade para defendê-las. Temos muito a avançar e ser reconhecidos em tudo que o país tem de positivo, porém vejo muito complicado com a atual imagem e polarização.
Na Europa, são diversos os parlamentares que afirmam que não irão ratificar o acordo Mercosul-UE até que o Brasil não cumpra seus compromissos ambientais. Como o sr. vê tal tendência?
Meio ambiente é tema prioritário na União Europeia. Passou a ser regra comercial com o capítulo incluído no Acordo Mercosul-União Europeia. O capítulo explica os problemas que começaram a surgir. A questão não será se é injusto ou justo. Vai valer a percepção que não protegemos o meio ambiente resultado da atual polarização. Hoje as regras de comércio se fragilizaram. Passou o tempo em que as controvérsias comerciais eram resolvidas na OMC. Sentiremos saudades dos casos dos subsídios do açúcar na União Europeia e do algodão com no EUA aonde o Brasil liderava e vencia.
Por qual motivo o sr. deixou a Sociedade Rural Brasileira?
Sai da SRB depois de 30 anos pois que li a transcrição, e mais do que isso, vi o vídeo da fatídica reunião ministerial. Sou contra o tom e o conteúdo do que o ministro (Salles) falou. Não poderia apoiá-lo. Burocracia existe em demasiado. Mas seu enfrentamento precisa ser às claras, com a participação da sociedade.
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