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Talíria cita 5 gravações tramando sua morte e recorre à ONU por proteção

Deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) segura placa em homenagem à Marielle Franco - Arquivo pessoal
Deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) segura placa em homenagem à Marielle Franco Imagem: Arquivo pessoal

Colunista do UOL

30/09/2020 04h00

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A deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) recorre às Nações Unidas diante das ameaças de morte que vem sofrendo e pede que as relatoras de direitos humanos da entidade cobrem explicações do governo brasileiro não apenas sobre seu caso, mas também sobre a morte de Marielle Franco e a proteção às mulheres brasileiras ameaçadas por violência política.

"Como se as ameaças anteriores à minha vida não fossem suficientes, alguns dias após o nascimento de minha filha, recebi novas ameaças. Em junho de 2020, a linha telefônica "Disque Denúncia" da Polícia do Rio de Janeiro noticiou à Câmara dos Deputados que havia mais de cinco gravações de pessoas falando sobre a minha morte", declarou Talíria à coluna.

Numa carta submetida no dia 25 de setembro, a deputada fez a denúncia à relatora da ONU sobre execuções sumárias, Agnes Callamard. Foi ela quem liderou a investigação sobre o assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi. Também receberam a denúncia a relatora sobre racismo da ONU, E. Tendayi, e a relatora sobre a situação de defensores de direitos humanos, Mary Lawlor.

Em declarações à coluna, a deputada apontou que, uma vez mais, estava com seu papel de parlamentar "restringido por conta de ameaças à minha vida". "Nosso país já tem uma democracia muito frágil e, sem dúvida, estamos vivendo um momento em que ela retrocede ainda mais", disse.

"Somos o país que mais mata defensores e defensoras de direitos humanos no mundo e, sem dúvida, a violência política é uma expressão do tamanho da fragilidade da democracia brasileira", afirmou. "É muito grave o que ocorre no Brasil neste momento", disse a parlamentar, fazendo referências a outros casos.

Se acatada pelas relatoras da ONU, a denúncia irá se transformar numa cobrança formal por parte das especialistas ao governo brasileiro. O gesto tem como objetivo forçar as autoridades a agir, ou pelo menos criar um constrangimento internacional que conduza a uma maior proteção à parlamentar.

Na queixa, ela relata como, em 2019, escreveu às relatoras "para informar sobre o aumento da violência estatal no Brasil e como via as ameaças dirigidas a mim como parte desse ambiente violento".

"Tanto o governo federal quanto o estadual negaram qualquer tipo de proteção para mim", denuncia.

"Tenho recebido ameaças contra minha vida desde minha primeira eleição em 2016 para a Câmara Municipal de Niterói, no estado do Rio de Janeiro", contou. "No início, não percebi como este tipo de intimidação poderia ser grave. Entretanto, após o assassinato de minha companheira e amiga Marielle Franco, eleita no mesmo ano, percebi o perigo real", diz.

"Desde então, tenho sido acompanhado pela Polícia Legislativa. Entretanto, não tenho nenhuma informação sobre as investigações em andamento sobre quem está fazendo essas ameaças e por quê", lamentou.

Para a parlamentar, porém, as ameaças não são apenas contra ela. "Como deputada eleita, defensora dos direitos humanos e uma mulher negra que se identifica com as lutas contra o racismo, a misoginia e outras formas de intolerância, percebo as ameaças dirigidas a mim como uma ameaça à própria democracia", escreveu.

Na carta, ela faz três pedidos às relatoras da ONU:

- Exigir respostas do Estado brasileiro sobre quem ordenou a morte de Marielle Franco;

- Condenar as ameaças contra sua vida e exigir explicações sobre à missão do Brasil na ONU sobre as investigações em andamento a seu respeito;

- Instar o Estado brasileiro a apresentar um plano para proteger as mulheres, especialmente as mulheres de cor por sofrer violência política.

O governo não se pronunciou até o momento. Na quinta-feira, um debate ainda ocorrerá no Conselho de Direitos Humanos sobre racismo e violência policial.