OMS: Vacinação teve impacto zero na curva de transmissão no mundo até agora
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Resumo da notícia
- Entidade ainda diz que covid-19 avança no Sul e Sudeste do Brasil e que 75% dos leitos de UTIs estão ocupados
A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirma que regiões brasileiras estão registrando um avanço nas transmissões do vírus da covid-19 e aponta que os sistemas de saúde já estão sendo impactados. Mas a resposta dos serviços públicos está dando conta da nova fase da crise. A agência também alerta que, por enquanto, não existem sinais de que as campanhas de vacinação em 42 países pelo mundo estejam mudando a curva do avanço da doença pelo mundo e que uma transformação mais profunda ainda levará seis meses para ocorrer.
Até lá, a ordem na OMS é a de insistir que medidas de distanciamento social, máscaras e evitar aglomerações devem ser mantidas e reforçadas.
De acordo com Michael Ryan, diretor de operações da OMS, o Brasil faz parte dos países que registram de novo um aumento no número de casos da covid-19. "Vimos o sistema de saúde impactado. Mas o número de leitos de UTI é adequado na maioria das regiões, ainda que em algumas delas se registre uma ocupação de 70% e 75%", afirmou.
Ryan lembra que o sistema de saúde do país chegou a ter 90% dos leitos de UTIs ocupados em ondas anteriores da transmissão. "O sistema de saúde continua a dar conta (da situação)", insistiu.
"O Brasil está na mesma situação que muitos outros países, lidando com uma segunda ou terceira onda de contaminações", admitiu. "Precisamos reduzir a força de transmissões dentro das comunidades. Esse conselho vai para todos, todos no Brasil", disse.
Mariângela Simão, diretora-adjunta da OMS, apontou que a pandemia tem tido diferentes reações nas diferentes regiões do país. Segundo ela, há uma certa estabilidade em alguns desses locais do país. Mas um "aumento em algumas regiões, especialmente no Sudeste e Sul". A diretora ainda qualificou de "boa notícia" os dados revelados pelo Instituto Butantan sobre a vacina desenvolvida em cooperação com cientistas chineses.
O Brasil, porém, não é o único país que vive uma situação de expansão da pandemia. "Estamos na luta por nossas vidas e o vírus circula ainda mais", alertou Ryan. Para Tedros Gebreyesus, diretor-geral da OMS, o mundo vive "um momento muito perigoso" e resultado da insistência de populações em não seguir as orientações de permanecer em suas casas ou evitar aglomerações.
"Vemos em alguns locais os maiores números de mortos na pandemia. Isso por conta de falta de compromisso com regras de distanciamento e restrição", disse. "O vírus está usando essa brecha e se expandindo", afirmou. Tedros criticou o comportamento de parte da sociedade que acha que a doença não lhes atingirá e pediu que não haja "complacência".
Impacto "zero" das vacinas em curva de transmissão
Já Ryan indicou que, pela terceira semana consecutiva, o mundo registrou 4 milhões de novos casos da doença e admitiu que, por enquanto, a vacinação em cerca de 40 países não teve qualquer impacto em mudar a curva da pandemia. "O impacto foi zero por enquanto", disse. "O fogo continuará a queimar. Mas podemos apagar esse fogo", alertou.
O diretor, porém, admitiu que as vacinas administradas por enquanto estão salvando vidas dos mais vulneráveis e que esse seria o objetivo neste momento. Já Bruce Aylward, representante da OMS para a aliança de vacinas, também confirmou que não existe ainda um impacto da vacinação no ritmo da doença.
"Não existem volumes para ter impacto na curva ainda e não veremos isso nos próximos seis meses". disse. Segundo ele, "não vai funcionar se as pessoas continuarem se misturando".
"Não politizem a vacina"
A OMS ainda se mostrou irritada com governos e empresas que têm optado por buscar acordos bilaterais, dificultando ainda mais o acesso de países pobres ao imunizante. Ryan fez um apelo claro, alertando que, depois da politização do vírus, o que o mundo agora caminha é para uma repetição da mesma lógica. "Por favor, não politizem a vacina", pediu.
A reação da OMS tem um motivo. De acordo com a entidade, 42 países já iniciaram a vacinação. Desses, 36 são países ricos e seis são emergentes. Na prática, 50% dos países ricos já estão vacinando suas populações, enquanto nenhum país pobre começou o processo. "Precisamos mudar as cortes do mapa neste mês", disse Aylward.
Ryan acredita que o foco está equivocado, com um pequeno número de países apontando para uma vacinação completa de suas populações e levando a uma quebra de estoques para os mais pobres. Para ele, o foco deveria ser atender aos mais vulneráveis em todos os países.
"Existe um problema real de que os mais pobres não estão recebendo vacinas. E precisamos superar isso", atacou Tedros. Segundo ele, os acordos bilaterais assinados pelos grandes países têm gerado uma inflação nos preços e dificultando o acesso aos mais pobres. "Muitos ficarão sem vacinas", alertou.
Tedros também criticou empresas que tem demorado para apresentar seus dados para a consideração da OMS, o que cria atrasos para que uma chancela mundial seja dada. Como dezenas de países não contam com agências regulatórias capazes de lidar com tais aprovações, um reconhecimento da OMS aceleraria a chegada do produto para muitos.
"O nacionalismo de vacina gera danos e o virus faz sua parte e circula mais. Estamos ajudando o vírus se não vacinarmos as pessoas", insistiu.
Tedros ainda criticou governos que tem tentado negociar acordos, saltando na fila da espera pela vacina. "Nenhum país é excepcional e tem o direito de pular a fila", completou.
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