Em cúpula sem o Brasil, europeus falam em fechar mercados para quem desmata
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Um só planeta. E o Brasil de fora. Num evento organizado pelo presidente da França, Emmanuel Macron, a ampliação de uma aliança foi anunciada nesta segunda-feira com cerca de 50 países para garantir um compromisso de governos contra o desmatamento e pela defesa da biodiversidade.
O governo de Jair Bolsonaro não participou. Os organizadores informaram que o convite foi feito. Mas o Itamaraty assegura que isso não ocorreu e que o país não recebeu convites nem para fazer parte da cúpula realizada nesta segunda-feira e nem para integrar a aliança.
A ampliação da coalizão foi anunciada em um evento de cúpula que ganhou o nome de "Um Planeta pela Biodiversidade". Na América Latina, fazem parte da iniciativa governos como o do Chile, Colômbia, Peru, México e Costa Rica, mas também outros países tropicais como República Democrática do Congo, Ruanda ou Gabão.
O projeto ainda inclui Alemanha, China, Itália, Emirados Árabes, Reino Unido, Espanha, Suíça, Japão, Paquistão e outros países. O bloco - chamado de Coalizão da Ambição pela Natureza e Povos - está sendo apoiado pela direção da ONU e do Banco Mundial.
A meta da aliança é a de garantir um compromisso dos governos para ampliar as medidas de proteção ambiental. Um dos objetivos é o de preservar 30% da área terrestre do planeta e 30% dos oceanos até 2030.
Mercados poderão fechar para quem desmata
Mas a ausência do Brasil não significou a ausência do tema mais espinhoso para o governo Bolsonaro na cena internacional: a Amazônia. Em discursos e vídeos projetados durante o encontro entre os líderes, o desmatamento na floresta foi citado, além dos incêndios.
O encontro ainda serviu como plataforma para que os europeus reforçassem o alerta de que irão começar a fechar seu mercado para exportadores que não consigam dar garantias de que vão abastecer os consumidores da UE sem desmatar florestas pela América Latina, Sudeste Asiático ou África.
É o que Macron chama de "importação de desmatamento", um conceito que também foi usado por Mark Rutte, primeiro-ministro da Holanda. Um dos pontos: evitar a importação de alimentos como carnes, café, açúcar, soja e outros produtos consumidos nos países ricos que possam gerar um desmatamento em seus locais de produção.
Pascal Canfin, presidente do Comitê de Meio Ambiente do Parlamento Europeu, indicou que a Europa deverá ter, até junho, a primeira lei para "colocar fim à importação de desmatamento".
"Isso vai pelo sentido de acordos com empresas que garantem que não vão importar de fornecedores que desmatam para plantar", explicou. Para ele, haverá uma "redução de acesso ao mercado para empresas" que não contribuam para proteger a floresta.
Segundo ele, o mundo conta hoje com tecnologias que permitem que satélites possam saber e medir o que existe em cada hectare de terra. Para os europeus, é o momento de usar isso para proteger o planeta. "Se uma empresa não consegue provar que é sustentável, não terá mais acesso ao mercado europeu", prometeu.
Ele ainda deixou claro que quer "mudar as regras sobre acordos comerciais". Para ele, exportações não podem ocorrer "às custas do meio ambiente". "Não queremos sanções contra parceiros. Mas não podemos ir mais como se nada estivesse ocorrendo", disse.
Macron defendeu a mesma tese. "Importamos muita coisa que resulta em desmatamento. Precisamos garantir que reduzimos essa tendência", disse.
Já Marco Lambertini, presidente da WWF, alertou para o consumo de carnes e outros produtos que poderiam causar desmatamento, caso não seja feita de forma adequada.
"Estamos destruindo nosso planeta"
Antonio Guterres, secretário-geral da ONU, também usou o evento para lançar um alerta . "2021 deve ser o ano para reconciliar a humanidade com a natureza. Até agora, temos estado destruindo nosso planeta", disse.
"Se compararmos a história da Terra com um ano, usamos um terço de seus recursos naturais nos últimos 0,2 segundos", afirmou. "Temos envenenado o ar, a terra e a água - e enchido os oceanos com plásticos. Agora, a natureza está voltando a atacar", disse.
"As temperaturas estão alcançando níveis recordes. A biodiversidade está em colapso. Os desertos estão se espalhando", constatou. Ele ainda lamenta que o mundo não tenha cumprido nenhuma das metas globais de biodiversidade estabelecidas para 2020.
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