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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Atacada por Bolsonaro, OMS ajudará Brasil a frear pandemia

Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante entrevista coletiva em Genebra -
Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante entrevista coletiva em Genebra

Colunista do UOL

06/04/2021 12h19Atualizada em 06/04/2021 22h02

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Resumo da notícia

  • Tedros revelou que, na reunião com Queiroga, ministro relatou cenário da crise no Brasil considerada como "realmente terrível"
  • Grupo de técnicos internacionais poderá ajudar o governo brasileiro a dar respostas à crise sanitária
  • Proposta também prevê auxílio para aumentar produção de vacinas

O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, afirmou que chegou a um entendimento com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, para permitir que técnicos da agência mundial possam trabalhar para ajudar o Brasil a lidar com a crise sanitária. O encontro ainda foi marcado por um relato por parte do chefe da pasta da Saúde do governo que foi descrito pela OMS como "realmente terrível".

No sábado (3), Queiroga e Tedros se reuniram, marcando um novo capítulo na relação entre o Brasil e a OMS e uma reviravolta na maneira de o Palácio do Planalto lidar com o organismo internacional.

Por meses, Brasília esnobou a entidade, enquanto o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez questão de criticar as recomendações da entidade. Já o ex-chanceler Ernesto Araújo atuou para minar qualquer ação que pudesse dar maiores poderes para a OMS.

Agora, a pasta da Saúde faz um gesto de aproximação e pede maior acesso às vacinas. No mesmo sentido, Queiroga ainda se reuniu com a Embaixada da China, na segunda-feira, na esperança de garantir o abastecimento de insumos.

No fim de semana, a coluna revelou os bastidores do encontro e como a OMS pediu que o Brasil reavaliasse sua postura no que se refere às patentes de vacinas, apoiando o projeto de países emergentes para suspender a propriedade intelectual para produtos que possam lidar com a pandemia. O Itamaraty havia chocado os demais países em desenvolvimento ao rejeitar a suspensão de patentes.

Nesta terça-feira (6), Tedros confirmou a existência de um plano de seguimento na relação com o Brasil. Numa coletiva de imprensa, ele explicou que "discutiu medidas" que serão tomadas entre o Brasil e a OMS.

"Discutimos como a situação é séria no Brasil e ele (Queiroga) começou descrevendo a situação que é realmente terrível, e o que ele gostaria de fazer", disse Tedros. "Concordamos no caminho a seguir", explicou. Segundo ele, a OMS está comprometida em ajudar "de todas as maneiras possíveis".

De acordo com Tedros, esse foi apenas o primeiro encontro e ficou estabelecido que reuniões de seguimento serão realizadas, com o envolvimento de técnicos. "Teremos novas reuniões e especialmente sobre detalhes das ações que devem ser tomadas. Haverá um engajamento de especialistas de alto escalão", explicou o chefe da OMS.

A postura revela uma mudança profunda no tom entre a entidade e o governo brasileiro, que passou 2020 acusando a instituição. O entendimento prevê reuniões periódicas da equipe técnica da OMS com o Ministério da Saúde.

Fontes dentro da organização revelaram que, nos últimos meses, técnicos estiveram presentes no país avaliando a crise. Mas optaram por não fazer anúncios para não abrir uma crise com o governo de Bolsonaro. Em certas ocasiões, a cooperação foi com os governos estaduais.

Agora, a relação promete ocorrer de forma mais oficial. A coluna apurou que, entre as medidas consideradas, está também o envio de técnicos para permitir que a produção de vacinas no Brasil seja incrementada de maneira mais rápida.


Com 3 milhões de mortes, mundo se depara com "apartheid de vacinas"

No dia em que os EUA comemoram a distribuição de 150 milhões de doses de vacinas contra a covid-19, países em desenvolvimento denunciam: a pandemia confirmou a existência de um "apartheid de vacinas" no mundo, com milhões de enfermeiras e médicos ainda sem proteção.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a falta de uma distribuição mais equitativa vai adiar o fim da pandemia. A pressão por uma maior justiça no acesso aos produtos será um dos pontos centrais no dia internacional da Saúde, marcado para esta quarta-feira.

Numa coletiva de imprensa nesta terça-feira, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, defendeu uma mudança real na distribuição de vacinas e disse que acesso será fundamental para superar a fase aguda da pandemia. Para ele, uma distribuição mais equitativa de tecnologia, vacina, oxigênio e testes é uma das "grandes mudanças" que o mundo precisa promover nos próximos meses.

Hage Geingob, presidente da Namíbia, foi enfático. "Depositamos nossa confiança nas vacinas. Mas ficamos de fora. Há um apartheid de vacinas. Lutamos contra o apartheid e agora lutamos de novo", alertou.

De acordo com os dados oficiais, os americanos distribuíram para sua população 15 vezes mais vacinas que todo o continente africano.

A OMS tinha colocado como meta permitir que, nos cem primeiros dias do ano, todos os países iniciassem campanhas de vacinação. Hoje, 190 deles já começaram. Mas os volumes ainda são profundamente desiguais. Enquanto os EUA já distribuíram 150 milhões de doses, 86 países pelo mundo receberam um total de 36 milhões de vacinas.

Tedros ainda criticou o fato de que, em muitos países, profissionais de saúde continuam sem ser vacinados. "Isso é uma farsa", alertou.