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Jamil Chade

REPORTAGEM

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OMS abre possibilidade de retirar máscara de vacinados, mas não no Brasil

Sem máscara, presidente Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores em São Paulo - Wanderley Preite Sobrinho / UOL
Sem máscara, presidente Jair Bolsonaro cumprimenta apoiadores em São Paulo Imagem: Wanderley Preite Sobrinho / UOL

Colunista do UOL

15/06/2021 18h57

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Resumo da notícia

  • Brasil teria de reduzir a taxa de transmissão para um décimo do que ela é hoje para entrar nos critérios da OMS de retirar máscara
  • Enquanto mundo viu queda de 2% em óbitos na semana, Brasil registrou salto de 14% e não acompanha a redução global

A OMS (Organização Mundial da Saúde) admite que governos podem começar a pensar em relaxar medidas de distanciamento social e uso de máscara para a população vacinada. Mas apenas em locais onde a transmissão é extremamente baixa, onde o vírus está sob controle ou onde não existam variantes do coronavírus. Ou seja, a nova orientação não se aplica ao Brasil.

Numa nova recomendação de 25 páginas elaborada pelos técnicos da entidade, nesta terça-feira, a agência admite que medidas de confinamento geram pressões sociais e ameaças para a população mais vulnerável. Mas insiste que cabe às autoridades pensar em formas de socorrer esses grupos e, em todos os casos, manter a recomendação para o uso de máscara, distanciamento social e limpar as mãos.

As novas recomendações são elaboradas seis meses depois de uma primeira avaliação da OMS. Desta vez, a ampla vacinação em alguns países levou a entidade a repensar sua estratégia. Elas ainda coincidem com o anúncio do presidente Jair Bolsonaro que estaria preparando uma avaliação sobre a possibilidade de se retirar a máscara para quem estiver vacinado.

Nada na estratégia da OMS, porém, muda para países como o Brasil onde as mortes continuam a superar os 2 mil casos por dia e não há sinal de controle da transmissão.

Para locais onde a transmissão é baixa, a agência abre brechas. "Embora os indivíduos vacinados ou com infecção passada documentada possam ainda ser capazes de ser (re)infectados e transmitir a infecção, provas crescentes sugerem que o risco de infecção é substancialmente reduzido", diz a OMS.

"Com base nisso, os países podem decidir flexibilizar os requisitos de quarentena para indivíduos com provas de imunidade, uma vez que o ônus da quarentena pode compensar o risco de transmissão. No entanto, se a circulação de variantes capazes de escapar à imunidade estabelecida se tornar evidente, tal relaxamento pode não ser aconselhável, porque as variantes ainda podem ser transmitidas de forma eficiente", alerta.

A OMS ainda aponta que governos devem avaliar também os riscos ao considerar a utilização de máscaras para o público em geral, independentemente de vacinação ou estado de imunidade natural.

"Em áreas de transmissão comunitária ou suspeita de transmissão da SARS-CoV-2 ou de cluster, a OMS aconselha o público em geral a usar uma máscara não médica em interiores (por exemplo, lojas, locais de trabalho partilhados, escolas) ou no exterior onde o afastamento físico de pelo menos 1 metro não pode ser mantido", recomenda a agência.

Taxa no Brasil deveria cair para um décimo para atender critérios da OMS

Em locais onde o risco é baixo, a OMS admite pela primeira vez que "autoridades locais podem considerar permitir a congregação de indivíduos totalmente vacinados ou recuperados sem usar máscaras e sem aplicar distâncias físicas em interiores privados". Mas isso deve ocorrer apenas para locais com baixa incidência de SRA-CoV-2, com menos de 20 casos para 100 mil habitantes.

No restante dos locais que não atinjam essa taxa, "medidas como o uso de máscara são recomendadas e devem continuar a aplicar-se a todos".

No Brasil, na semana que terminou no último domingo, foram cerca de 450 mil novos casos da covid-19, mais de 200 para cada 100 mil habitantes. Para o país entrar nos critérios da OMS, portanto, teria de reduzir para apenas um décimo a contaminação.

Mortes no sentido contrário da tendência mundial

Os novos dados da OMS ainda revelam que, na semana, enquanto o mundo viu uma redução de 2% no número de mortes, a alta no país foi de 14%, com 13,3 mil óbitos em sete dias. No mundo, foram 72 mil. Apenas a Índia ainda conta com números superiores ao do país. Somados, todos os 55 países europeus tiveram 7,2 mil mortos, quase metade do total registrado apenas no Brasil.

A OMS também indica que a taxa de contaminados voltou a cair no mundo, com uma redução de 12% e colocando a pandemia no mesmo patamar das taxas de fevereiro. No Brasil, porém, há uma estagnação em números ainda elevados.