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Comunidade internacional abandonou afegãos antes da saída de militares
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Resumo da notícia
- No início do ano, ONU solicitou US$ 1,3 bilhão para sair ao socorro de 18 milhões de afegãos que vivem crise humanitária
- Doadores e governos enviaram apenas 37% do valor necessário, aprofundando fome e desespero da população
- Nos últimos cinco anos, a proporção de pessoas em situação de crise ou de emergência quadruplicou.
- Em 2021, estima-se que 16,9 milhões de pessoas, 42% da população, estarão em níveis de crise ou de emergência de insegurança alimentar
Antes de americanos terem retirado suas tropas do Afeganistão, a comunidade internacional já havia abandonado o país. Dados obtidos pela coluna revelam que as agências da ONU que operam dentro do país receberam apenas um terço do valor que solicitaram das grandes potências internacionais para garantir, desde o começo do ano, alimentos, remédios e proteção à população local.
A ONU estimava no começo do ano que 18,4 milhões de pessoas necessitariam de assistência humanitária em 2021. "Esse número recorde é quase o dobro do número desde o início de 2020 (9,4 milhões de pessoas)", aponta o documento que circula entre os governos em busca de fundos.
Para atender ao total dos necessitados, a entidade solicitou dos grandes doadores e de governos pelo mundo um volume de US$ 1,3 bilhão, o maior apelo humanitário das Nações Unidas para o ano de 2021. Mas um levantamento obtido pelo UOL revelou que a operação recebeu apenas 37% do valor.
O buraco, portanto, é de mais de US$ 800 milhões e, sem esse dinheiro, as agências humanitárias insistem que não conseguem atender ao povo afegão.
Fontes do alto escalão da ONU argumentam que não há como entender o avanço do Talibã sem considerar o fracasso do estado afegão em prestar serviços para sua população.
De acordo com a ONU, o aumento no número de pessoas entre 2020 e 2021 é impulsionado pelo impacto social, econômico e sanitário da pandemia, pela elevada mobilidade pelas fronteiras, pela insegurança alimentar e pelo conflito.
Dessas 18 milhões de pessoas, 12 milhões precisavam já de ajuda para garantir sua proteção. "Níveis elevados de endividamento, meios de subsistência erodidos, conflitos contínuos e traumas psicossociais repetidos exacerbaram as necessidades de proteção", constatou.
Nos últimos cinco anos, a proporção de pessoas em situação de crise ou de emergência quadruplicou. Em 2021, estima-se que 16,9 milhões de pessoas, 42% da população, estarão em níveis de crise ou de emergência de insegurança alimentar - a quinta maior proporção do mundo.
Quase uma em cada duas crianças com menos de 5 anos de idade enfrenta agora desnutrição aguda. A pandemia também obrigou ao encerramento temporário das escolas, deixando 10 milhões de crianças fora das salas de aula durante a maior parte do ano. Quase três quartos da população nas zonas rurais não têm acesso a água potável segura, saneamento e serviços de higiene.
O documento aponta para a situação crítica de mulheres e crianças que são cada vez mais obrigadas a trabalhar fora de casa e estão em risco acrescido de casamento precoce, exploração ou recrutamento para grupos armados.
No apelo feito pela ONU, antes mesmo da atual crise política, o documento alertava que "quarenta anos de guerra, catástrofes naturais recorrentes, pobreza crescente e a covid-19 estão devastando o povo do Afeganistão".
"O conflito continua a provocar danos físicos e psicológicos extremos e deslocou à força 278.000 pessoas nos primeiros 10 meses de 2020", indicou. Hoje, esse número já chega a 600 mil.
"Mesmo após o início das negociações de paz em 12 de setembro de 2020, as baixas civis continuam elevadas, sem qualquer sinal de interrupção dos combates", alertou a ONU.
"As mulheres e as crianças são afetadas de forma desproporcional, compreendendo 44% de todas as baixas civis nos primeiros três trimestres de 2020", constatou.
De acordo com a ONU, a pandemia ainda resultou numa perda de renda para 59% das famílias, enquanto 17% delas assumiram níveis catastróficos de dívida, principalmente para cobrir necessidades imediatas de alimentação e cuidados de saúde.
"Estima-se que 30,5 milhões de pessoas estão em risco de necessitar de assistência humanitária se ficarem sem assistência social urgente por parte do Governo e dos atores de ajuda ao desenvolvimento", apontou.
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