Carta a Derrite: Matar não é defender direitos humanos, é seu fracasso
Senhor Guilherme Derrite,
Ninguém deseja que a impunidade vença. Ninguém fala em dar anistia para bandidos ou promover a existência de organizações criminosas. Ninguém ignora a dor da perda de uma família quando um policial é morto. Todos queremos uma sociedade segura.
Mas sua frase de que policiais são "os únicos e verdadeiros promotores dos direitos humanos" é um escárnio.
Ou se trata de uma demonstração de sua ignorância em relação aos direitos humanos ou um ato deliberado que pressupõe que alguns humanos não têm direitos.
Ao longo dos anos, a violência da polícia brasileira foi sempre apresentada no exterior como um exemplo a não ser seguido. Um exemplo do fracasso em dar segurança a uma sociedade. Um exemplo do péssimo uso do estado como garantia da ordem.
Dados do Ministério Público indicaram que houve um salto de 98% nas mortes por PMs em São Paulo entre 2022 e 2024. Justamente no governo de Tarcísio de Freitas. Foram mais de 700 mortes apenas em 2024.
"Ah, mas são todos bandidos", ecoa pelos corredores. Tanto o senhor como as famílias das vítimas sabem que isso não é verdade. E ainda que fossem, em qual artigo da Constituição fica estabelecido que seus direitos são suspensos para permitir que o estado mate? E como isso ajuda a, de fato, construir uma sociedade realmente segura?
No combate ao crime, a realidade é que dá trabalho não matar. Para uma polícia, isso exige investigação, investimentos, treinamento, preparação e capacidade de atuação.
Ao evocar o conceito de direitos humanos para descrever a polícia brasileira, o senhor busca formas de justificar a brutalidade e revela que tem na violência a única arma para estabelecer uma suposta ordem. E não a Justiça.
Num país que é o projeto mais bem-sucedido de desigualdade e descaso pela vida humana, ignorar os motivos pelos quais criminosos passaram a ocupar o espaço territorial e de controle de fato é escolher perpetuar a crise.
Corpos baleados, jogados por pontes ou assediados por sua cor não são índices de êxito na segurança pública. São os indícios de seu fracasso.
Saudações democráticas,
Jamil Chade
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