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Talibã vai de casa em casa para caçar "traidores"
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Resumo da notícia
- Informe de inteligência aponta que discurso de moderação do grupo islâmico não condiz com ações pelo país
- ONU alerta que afegãos não têm, hoje, como sair do país por vias legais
Um informe de inteligência fornecido por parceiros da ONU à entidade internacional revela que, desde que tomou o poder, as milícias do Talibã estão indo casa por casa em busca de pessoas que tenham trabalhado com as forças americanas e da OTAN, além de opositores e ativistas.
Considerados como "traidores" essas pessoas forneceram serviços nos últimos 20 anos para as forças estrangeiras, atuando como intérprete, motoristas e todo tipo de trabalho.
A informação faz parte de um documento elaborado pelo Centro Norueguês de Análises Globais, um dos parceiros da ONU para o fornecimento de inteligência sobre o Afeganistão. Além da caça por opositores, os dados apontam que o grupo fundamentalista estabeleceu check-points no caminho entre Cabul e o aeroporto.
A constatação se contrasta com a promessa do Talibã de que haveria uma anistia a todos no país e que a guerra tinha "terminado". O grupo fundamentalista também indicou que não haveria "revanche" contra indivíduos.
Mas, segundo o informe, a realidade é diferente. Os dados apontam que se pessoas que trabalharam com a OTAN ou EUA não se apresentarem às novas autoridades, eles serão detidos e processados. Se fugirem, seus parentes serão alvos de punição.
A coluna revelou, no início da semana, que um outro informe da ONU indicou que, no avanço do Talibã até Cabul desde meados do ano, crimes de guerra e crimes contra a humanidade foram cometidos. O grupo teria executado e torturado civis que tenham trabalhado para o governo anterior ou potências estrangeiras.
Para os autores do informe, qualquer um que estiver na lista negra do Talibã corre sérios risco de vida e não se descarta execuções em massa.
Afegãos não tem como sair legalmente do país
Nos últimos dias, governos ampliaram os esforços para evacuar uma parte dessas pessoas. De acordo com a OTAN, 18 mil pessoas já foram retiradas do país.
Para a ONU, porém, isso não será suficiente e a população, hoje, não conta com "caminhos legais" para sair do país e pedir refúgio. "Estes programas bilaterais de evacuação não deveriam, no entanto, ofuscar ou substituir uma ação humanitária internacional urgente", insistiu a ONU.
"Aqueles que possam estar em o perigo não tem uma saída clara. O Acnur apela aos países vizinhos do Afeganistão para manterem as suas fronteiras abertas à luz da crise em evolução", defendeu.
Nesta sexta-feira, a entidade alertou que existem 2,9 milhões de pessoas deslocadas internamente no Afeganistão e 2,6 milhões de refugiados pelo mundo. 90% deles estão Paquistão e Irã. Apenas desde o início do ano, o número de pessoas obrigadas a deixar suas casas chegou a 550 mil.
Para o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), não basta apenas evacuar alguns milhares de afegãos. A agência afirmou que está "preocupada" com a crise e pediu que a comunidade internacional não abandone o restante dos afegãos.
O Acnur indica que precisa de US$ 33 milhões para garantir o abastecimento de serviços para essa população mais vulnerável. Mas, por enquanto, recebeu menos de 47% desse valor.
De acordo com a ONU, existem sinais cada vez mais claros de "conflitos generalizados" desde o início da semana.
A porta-voz do ACNUR, Shabia Mantoo, indicou que a situação em todo o país "continua a ser extremamente fluida". "O impacto total ainda não é claro. Muitos afegãos estão extremamente ansiosos sobre o que o futuro nos reserva", disse.
"O apoio reforçado à resposta humanitária no próprio Afeganistão é urgente necessário para prestar assistência ao povo afegão, incluindo cerca de meio milhão deslocados só este ano. A grande maioria dos afegãos não consegue deixar o país através de canais regulares. As imagens do aeroporto chocaram o mundo, mostrando a sensação de medo e incerteza entre muitos afegãos", completou.
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