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Em reunião sobre Afeganistão, China acusa EUA e sinaliza apoio ao Talibã
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A reunião de emergência convocada para esta terça-feira no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas para lidar com a crise no Afeganistão se transforma em uma demonstração do racha na comunidade internacional sobre como lidar com o Talibã.
O encontro foi convocado para aprovar uma resolução que conceda um mandato para a ONU poder investigar e monitorar os crimes cometidos pelo grupo fundamentalista. Mas, sem um acordo, o projeto de resolução não especifica de que maneira esse processo ocorreria e nem se um mecanismo especial seria criado.
Longe de um entendimento, a reunião na ONU deixou claro que não existe um consenso. O governo da China não deu sua chancela para a convocação do encontro e tampouco apoiou a ideia de um mecanismo de investigação.
Pequim insistiu que o Talibã já teria dado demonstrações de que está disposto a formar um governo com diferentes atores e que irá proteger os direitos de mulheres e meninas. Os chineses, num discurso duro, optaram por criticar os governos dos EUA. Reino Unido e Austrália pela ocupação militar dos últimos anos. "Eles precisam ser responsabilizados", disse a delegação de Pequim. Para a China, o caos atual deve servir como "lição" ao Ocidente.
"Os EUA, Reino Unido, Austrália e outros países devem ser responsabilizados pela violação dos direitos humanos cometida pelos seus militares no Afeganistão e essa sessão deve cobrir esta questão", disse o embaixador da China, Chen Xu.
"Sob a bandeira da democracia e dos direitos humanos, os EUA e outros países realizam intervenções militares em outros estados soberanos e impõem o seu próprio modelo a países com uma história e cultura muito diferentes", disse. "Isso trouxe grande sofrimento", afirmou o diplomata.
Pequim já havia assinalado que está disposto a manter relações "amistosas" com o Talibã e, nesta terça-feira, voltou a dar seu apoio em um encontro formal na ONU.
Em resposta, a subsecretária de estado norte-americana, Uzra Zeya, defendeu os avanços dos últimos 20 anos no que se refere aos direitos humanos e insistiu que tais conquistas não podem ser desfeitas.
Ela pediu a proteção da população civil, ativistas e jornalistas. A Casa Branca condenou a violência no país e pediu que todos os afegãos que queiram sair do país sejam autorizados a cruzar as fronteiras. Para os americanos, apenas um acordo político pode colocar fim à crise.
O governo de Cuba também optou por usar a reunião para denunciar os EUA. "Os americanos são diretamente responsáveis por essa situação", disse a delegação de Havana. "Em 20 anos, 100 mil civis morreram ou ficaram feridos. Não vamos parar o terrorismo com bombas", alertou. "Sem que os americanos agiram para promover a democracia, caos e mortes prevaleceram", disse.
A avaliação da China sobre a confiança na palavra do Talibã, porém, não é compartilhada pela ONU que confirmou que o avanço do grupo pelo Afeganistão foi permeado por crimes e pediu que a comunidade internacional estabeleça um mecanismo formal para monitorar o grupo fundamentalista e suas promessas.
Crimes cometidos, inclusive contra mulheres
Na abertura do encontro, coube à Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, fazer um raio-x da situação no país. Sua constatação: crimes foram cometidos e mulheres e meninas foram já alvo de limitações impostas pelo Talibã, além de execuções sumárias.
Os dados se contrastam com as promessas do grupo que, ao tomar Cabul, insistiu que não haveria nem vingança e que os direitos das mulheres estariam garantidos.
Sem a perspectiva de uma resolução forte, a Comissão de Direitos Humanos do Afeganistão acusou a comunidade internacional de estar "falhando" na proteção da população afegã. Um diplomata ainda representando o governo deposto do Afeganistão ainda tomou a palavra para pedir que houvesse um consenso internacional para pressionar o Talibã a respeitar o direito internacional.
O governo brasileiro também tomou a palavra durante o encontro e defendeu que a resolução a ser votada ainda no dia de hoje seja mais robusta no que se refere à criação de um mecanismo de investigação e monitoramento.
O Itamaraty alertou que está preocupado especialmente com a situação de mulheres, ativistas e minorias religiosas. Para o governo brasileiro, os avanços em direitos humanos dos últimos anos não podem ser desfeitos.
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