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"Onde existe muita floresta existe muita pobreza", diz Leite na COP26
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O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, chocou ambientalistas e mesmo autoridades ao dizer diante do mundo que o governo "reconhece que onde existe muita floresta também existe muita pobreza". A declaração foi feita em seu discurso oficial na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, em Glasgow, nesta quarta-feira.
O chefe da pasta lidera a delegação brasileira na COP26, que termina nesta sexta-feira, e cobrou mais uma vez os países ricos a abrir seus cofres e garantir o financiamento aos países emergentes. Mas não citou o desmatamento em alta no Brasil nos últimos dois anos, uma destruição recorde e apenas falou em "desafios".
A conexão que ele traça entre floresta e pobreza foi interpretada por observadores como um sinal de que o projeto do governo de Jair Bolsonaro e denunciado por entidades está preservado, apesar dos anúncios supostamente positivos do país em Glasgow.
Leite, porém, não hesitou em proclamar: "O futuro verde já começou no Brasil"
Um dia antes, ele se recusou a responder aos jornalistas se apoiava ou não projetos de lei que estavam tramitando no Congresso, prevendo a mineração em terras indígenas e outras atitudes denunciadas pelo mundo.
Segundo ele, para promover o desenvolvimento sustentável da região, o governo criou o Programa Nacional de Pagamentos por Serviços Ambientais Floresta+, "que busca fomentar o mercado de serviços ambientais, reconhecendo e remunerando quem cuida de floresta nativa".
"Essa declaração revela a mentalidade do governo é da década de 70 do século passado: desmatar, para eles, é sinônimo de desenvolver. Como é um governo que despreza a ciencia, não conseguem aceitar que essa visão foi superada por tudo que a ciência tem mostrado", disse o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), que está em Glasgow.
O deputado Marcelo Calero também criticou a postura de Leite. "A fala do Ministro mostra uma atuação totalmente distoante do tradicional papel do Brasil nas negociações globais sobre mudanças climáticas", disse.
"Ao invés de líder e indutor de compromissos ousados, o Brasil se acovarda em uma narrativa reativa e irresponsável", afirmou. "Dois pontos se destacam: a associação entre floresta e "pobreza", totalmente equivocada; e a vinculação pisada e repisada da questão do financiamento internacional, que o Governo brasileiro tem usado como subterfúgio para sua inação", completou.
O discurso de Leite foi o primeiro em pessoa de uma autoridade do governo federal na plenária de alto nível do evento. Na abertura da COP26, o presidente Jair Bolsonaro se limitou a enviar um vídeo pré-gravado, enquanto mais de 130 líderes fizeram a viagem até Glasgow. Leite justificou que o presidente participou de "maneira moderna".
Em sua fala, o ministro tentou transferir responsabilidade para os países ricos. Leite insistiu que o Brasil assumiu um suposto papel de "ator chave" e que "fez movimentos importantes, anunciando metas climáticas ainda mais ambiciosas". Para ele, o país "faz parte da solução" e tentou vender uma agricultura sustentável e planos do governo em diferentes áreas.
Mas não houve uma referência explícita ao principal tema de preocupação mundial: a alta do desmatamento da Amazônia. Ele, porém, preferiu falar que o governo reconhece "os desafios" e trabalha para superá-los.
"Para conter o desmatamento ilegal na Amazônia, o Governo Federal dobrou os recursos destinados às agências ambientais federais e promoveu a abertura de concursos para 739 novos agentes ambientais. Além disso, o Ministério da Justiça intensificou as ações de comando e controle, com 700 homens da Força Nacional em campo, que atuam em 23 municípios de forma ostensiva e permanente", disse.
Transferências de responsabilidade
O ministro ainda indicou como o Brasil tem feito gestos para garantir "resultados positivos na criação do mercado de global de carbono sob o Artigo 6", numa referência às negociações na COP26.
Mas inverteu o debate sobre a responsabilidade por um acordo. "É importante que os países desenvolvidos reconheçam a emergência financeira e mobilizem os recursos necessários para atingir os objetivos desejados nesta conferência", disse.
"A meta dos 100 bilhões de dólares não foi cumprida. E este valor já não é mais suficiente para que o mundo construa uma nova economia verde com uma transição responsável", insistiu.
"São necessários volumes mais ambiciosos, de fácil acesso e execução ágil, para que a transformação ocorra de forma inclusiva em cada território ao redor do mundo, prioritariamente em regiões mais vulneráveis em relação a clima e desenvolvimento econômico", declarou.
"Os países que historicamente e atualmente são os responsáveis pelos maiores volumes de poluição da atmosfera devem demonstrar suas efetivas ambições de financiamento nesta conferência, sem postergar ainda mais um compromisso assumido em 2015 e até o momento não realizado em sua plenitude. Todas as partes desta conferência devem assumir suas responsabilidades comum porém diferenciadas na direção de uma economia verde neutra em emissões", disse.
Num esforço ainda para impedir futuras barreiras comerciais contra o Brasil, Leite adotou um discurso de que punir os emergentes não funcionará.
"O desafio global a ser superado é reverter a lógica negativa da punição, da sanção e da proibição, para a lógica positiva do incentivo, da inovação, da priorização. É necessário transformar a agenda ambiental em oportunidade de crescimento econômico e geração de empregos verdes. A partir de uma visão construtiva, encontraremos o caminho para criar o futuro sustentável que desejamos a todos", completou.
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