Topo

Jamil Chade

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Desafeto de Bolsonaro, Macron receberá Lula

O presidente da França, Emmanuel Macron, e Jair Bolsonaro durante o encontro do G20, em Osaka (Japão) - JACQUES WITT/AFP
O presidente da França, Emmanuel Macron, e Jair Bolsonaro durante o encontro do G20, em Osaka (Japão) Imagem: JACQUES WITT/AFP

Colunista do UOL

16/11/2021 15h43

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O presidente da França, Emmanuel Macron, receberá o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, num duro golpe contra a diplomacia de Jair Bolsonaro.

A informação foi dada pelo próprio brasileiro, nesta terça-feira em Paris. O encontro, marcado para a quarta-feira, promete ampliar a crise entre Paris e Brasília, que já vive um de seus momentos mais baixos em anos.

Nos últimos dois anos e meio, a relação entre Brasil e França viveu momentos de tensão e constrangimento. Antes mesmo de assumir a presidência, Jair Bolsonaro foi alvo de questionamentos por parte de Macron. Em Buenos Aires, para um encontro no final de 2018, o francês colocou em dúvida o compromisso do Brasil na questão ambiental.
A situação ficou ainda mais incômoda quando Bolsonaro deixou de receber Le Drian, em uma visita ao Brasil. O encontro estava agendado e, poucos minutos antes, o presidente brasileiro decidiu anular a conversa. No lugar do encontro, ele fez uma live cortando o cabelo.

Naquela época, o jornal Le Monde indicou que fontes da diplomacia francesa indicaram que o ministro esnobado por Bolsonaro manteve "a calma dos velhos de guerra". Dois anos depois, ele não recebeu o chefe da diplomacia do presidente brasileiro.

Outros episódios também marcaram a relação bilateral. Durante a cúpula do G7, em 2019 na França, Macron deixou o Brasil de fora e convidou o Chile como o interlocutor latino-americano.

Dias depois, o chefe de Estado em Paris foi alvo de ataques por parte de Bolsonaro, que sugeriu uma crítica à aparência da esposa do presidente francês. Macron, naquele mesmo evento, falou na internacionalização da Amazônia, ampliando a crise entre os dois países.
A crise, porém, ganhou novos patamares quando Macron passou a ser um dos principais opositores à ratificação do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, sob o argumento de que as políticas ambientais do país não atendiam os critérios europeus.

Mais recentemente, porém, Macron tem usado o Brasil de Bolsonaro como plataforma para sua campanha eleitoral, principalmente ao tentar demonstrar aos ecologistas que seu compromisso em defender o planeta é real. Para isso, vetou qualquer acordo comercial com o Mercosul e chegou a falar no crime de ecocídio.

Outro protagonista da tensão tem sido Luis Fernando Serra, embaixador do Brasil em Paris. Ele não compareceu à Assembleia Nacional francesa, para uma audiência na qual foi convidado para falar sobre o desmatamento no país. Em cartas, ele atacou o jornal Le Monde por sua cobertura sobre o Brasil e concedeu entrevistas polêmicas para os meios de imprensa na França.

Sua embaixada em Paris, porém, é alvo de repetidos protestos, inclusive com faixas com a palavra "genocida".

Em declarações exclusivas ao UOL, o chefe de estado francês insistiu há duas semanas sobre a necessidade de ampliar a cooperação para a preservação da Amazônia e pede "mais ambição" em questões climáticas.

Eis os principais trechos da entrevista, concedida às margens da cúpula do G20 em Roma:

Chade - O que o senhor espera do Brasil para a proteção da Amazônia?

Macron - Acho que nós todos trabalhamos para reduzir o desmatamento. A França, na Guiana, trabalha nesse sentido e para preservar povos autóctones. O que queremos é ampliar a cooperação com todos os países da região para caminharmos nessa direção.

O Brasil está fazendo o suficiente?

Não vou culpar ou felicitar ninguém hoje. Acho que todos terão de ser mais eficientes para combater o desmatamento. Caso contrário, mataremos a biodiversidade e, acima de tudo, nossa capacidade de lutar contra emissões de CO2.

Para mim, vamos matar o equilíbrio na região para as pessoas, Por isso, é muito importante ter mais cooperação e mais ambição em termos de proteção e preservação da floresta Amazônica.

Como o senhor avalia a relação entre o Brasil e a França neste momento?

(Depois de um silêncio) Já foi melhor.