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Venezuela usa covid-19 para dizer que seu modelo é superior ao do Brasil
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Numa sabatina na ONU sobre a situação de direitos humanos na Venezuela, o governo de Nicolas Maduro se defendeu de críticas feitas pelo Itamaraty, insinuando que o Brasil não tem legitimidade para questionar outros países diante da crise sanitária no país. Para as autoridades de Caracas, a diferença no número de mortos nos dois países pela covid-19 coloca em questão o modelo brasileiro.
A sabatina ocorreu nesta terça-feira durante a Revisão Periódica Universal no Conselho de Direitos Humanos da ONU. O exercício é aplicado a todos os países e é usado por governos para cobrar mudanças no comportamento de estados.
No caso venezuelano, a própria ONU concluiu uma investigação no ano passado denunciando a repressão por parte das autoridades de Caracas, prisões arbitrárias e mortes, além de censura e tortura.
Ao tomar a palavra, no encontro de hoje, o governo brasileiro afirmou que estava "preocupado com as violações de direitos humanos" em Caracas e que as vítimas continuam sem uma resposta da Justiça.
Nos primeiros anos do governo de Jair Bolsonaro, o Itamaraty assumiu uma postura de ataques frontais contra Maduro, inclusive retirando seus diplomatas do país e deixando de reconhecer a legitimidade das autoridades em Caracas. Com a saída de Ernesto Araújo do Itamaraty, o tom mudou. Mas não deixou de cobrar pelas violações de direitos humanos.
Nesta terça-feira, durante a reunião, o governo brasileiro pediu que Maduro permita que os investigadores da ONU tenham acesso ao país para avaliar a situação de direitos humanos.
O Itamaraty também pediu que sejam dadas condições para uma eleição "livre e justa, restaurando a democracia". O governo brasileiro também cobrou uma "reforma do Judiciário para garantir independência de juízes".
Como resposta, a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, optou por atacar o governo brasileiro. Segundo ela, o Brasil é "o epicentro da pandemia da covid-19 na América do Sul". "O Brasil é o terceiro colocado no mundo em termos de casos e mortos, enquanto a Venezuela, com seu modelo para a proteção da vida e saúde dos venezuelanos, está na 76ª posição", disse. "Aqui vemos a diferença dos modelos", afirmou.
Os números de mortos, porém, são fornecidos para a OMS por cada um dos governos. Há quatro anos, no que se refere a outras doenças, a agência de Saúde chegou a admitir que não tinha garantias de que os números refletiam a realidade do país.
Mas a vice-presidente também acusou o governo Bolsonaro de ser "satélite" de outros interesses "hegemônicos", numa referência aos EUA. "Esses países se uniram para penalizar a Venezuela", disse. Nos últimos anos, parte da região formou o Grupo de Lima, uma coalizão para pressionar Maduro e isolar seu regime. "Eles nem sabem o que estão falando", declarou a vice-presidente.
Durante o encontro, o governo de Maduro tentou impedir que um discurso da delegação americana fosse concluído. Ao tomar a palavra, a representante da Casa Branca insistia em denunciar a repressão na Venezuela, com o uso de grupos armados.
Caracas interrompeu o debate, alegando que os americanos usavam uma "terminologia inadequada". "Isso é falta de respeito", disse.
O mesmo comportamento por parte da Venezuela foi registrado quando a delegação de Israel tomou a palavra e denunciou a ligação entre Caracas e "grupos terroristas" no Oriente Médio. "Preciso proteger a dignidade de meu país", disse a diplomacia venezuelana.
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