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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Prestes a receber Bolsonaro, Orbán tem pior derrota por ataque à democracia

Jair Bolsonaro com o premiê da Hungria, Viktor Orbán, que em 2014 afirmara estar construindo "um Estado iliberal" em seu país - MARCOS CORREA/AFP
Jair Bolsonaro com o premiê da Hungria, Viktor Orbán, que em 2014 afirmara estar construindo 'um Estado iliberal' em seu país Imagem: MARCOS CORREA/AFP

Colunista do UOL

16/02/2022 06h15

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Às vésperas da chegada de Jair Bolsonaro para uma visita ao primeiro-ministro de extrema-direita, Viktor Orbán, em Budapeste, a Hungria sofre sua pior derrota nos tribunais da Europa. Nesta quarta-feira, o Tribunal de Justiça Europeu autorizou a União Europeia a congelar o repasse de recursos para países que não cumprem com as regras do estado de direito e que minem a independência da Justiça.

Hungria e Polônia tinham entrado com uma ação para impedir que essa suspensão de pagamentos ocorresse, o que poderia levar ao congelamento de bilhões de euros. Orbán já acusou Bruxelas de estar promovendo uma "jihad" contra seu governo, enquanto ele passou os últimos doze anos desmontando o estado de direito, censurando jornais, controlando o parlamento e a Justiça. Agora, a corte permitiu que a UE tenha mecanismos para punir esse comportamento, com graves consequências financeiras.

Bolsonaro desembarca na quinta-feira em Budapeste, com a esperança de usar a viagem para mandar um recado para sua base mais radical de que o projeto estabelecido por Orbán é considerado como um modelo também para o Brasil. Na Europa, porém, ele passa a viver uma situação de pária.

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Entidades de direitos humanos, como a Conectas, estão denunciando a aliança entre os dois países, como um mecanismo para minar direitos conquistados, principalmente por mulheres e grupos LGBT.

Para Orbán, a decisão da corte não poderia ter vindo em pior momento. Observadores europeus indicam que a medida não é apenas simbólica. Mas pode afetar de maneira importante o orçamento do país.

Para completar, ele enfrenta eleições em abril, no que indica ser o momento mais crítico de seu governo de uma década. Para derrotar Orbán, os seis partidos de oposição se uniram numa candidatura conjunta.

Mas já prevendo uma derrota nas cortes europeias, Orbán tentou mobilizar sua base. Num discurso no fim de semana, ele declarou: "Eles estão travando uma guerra santa, uma jihad do Estado de direito", disse ele no sábado em um discurso à nação. "E palavras, meus amigos, raramente ajudam diante da jihad". Devemos mostrar força! Que comece a Reconquista"!

Nos últimos sete anos, a Polônia recebeu 104 bilhões de euros da Europa, contra 40 bilhões de euros para a Hungria. Além de ficar sem os recursos, Budapeste ficou sem ter acesso ao pacote criado pela Europa para financiar a recuperação da região, pós covid-19. A UE estima que Orbán passou a usar o financiamento para se beneficiar.