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Jamil Chade

REPORTAGEM

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ONU soa alerta: mundo vive sua pior crise de segurança dos últimos anos

Colunista do UOL

23/02/2022 05h59

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Num alerta emitido diante da tensão entre superpotências nucleares, a ONU constata que o mundo vive sua pior crise de segurança dos últimos anos, que a paz está ameaçada e alerta para o risco de um confronto real.

Numa declaração, o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, apontou para o risco de que o atual enfrentamento entre Moscou e Washington, por conta da situação no Leste Europeu, leve a comunidade internacional a um cenário desastroso.

Guterres contou que teve de cancelar uma viagem ao continente africano para "correr de volta à sede da ONU". "Nosso mundo está enfrentando a maior crise global de paz e segurança dos últimos anos - certamente em meu mandato como secretário-geral", disse o português, que iniciou seu mandato em 2017.

"Enfrentamos um momento que eu sinceramente esperava que não veria", alertou. "Estou profundamente perturbado com os últimos acontecimentos relativos à Ucrânia - incluindo relatos de aumento das violações do cessar-fogo através da linha de contato e o risco real de uma nova escalada no terreno", disse, apontando para o risco de uma crise humanitária.

Para ele, não restam dúvidas de que a ação russa violou o direito internacional. "Deixe-me ser claro: a decisão da Federação Russa de reconhecer a chamada "independência" de certas áreas das regiões de Donetsk e Luhansk é uma violação da integridade territorial e da soberania da Ucrânia", disse.

Segundo ele, a medida entra em conflito direto com os princípios da Carta das Nações Unidas e é inconsistente com o Tribunal Internacional de Justiça. "É também um golpe mortal para os Acordos de Minsk endossados pelo Conselho de Segurança", advertiu, numa referência aos tratados assinados em 2014 entre Ucrânia e Rússia.

Guterres, conhecido por ser discreto e não denunciar publicamente governos, não hesitou desta vez em criticar os russos. "Os princípios da Carta das Nações Unidas não são um menu à la carte. Eles não podem ser aplicados de forma seletiva", disse.

O português ainda criticou a decisão de Vladimir Putin de qualificar os soldados que pretende mandar para a região como sendo "tropas de paz". "Tenho orgulho das realizações das operações de manutenção da paz da ONU nas quais tantos Capacetes Azuis sacrificaram suas vidas para proteger os civis. Quando tropas de um país entram no território de outro país sem seu consentimento, elas não são mantenedoras da paz imparciais", atacou.

A ONU fez um apelo para um cessar-fogo imediato e o restabelecimento do Estado de direito. "Precisamos de contenção e razão. Precisamos de uma desescalada agora. Peço a todos que se abstenham de ações e declarações que levariam esta situação perigosa para além do limite", afirmou.

Apelando ainda para negociações, Guterres completou: "As Nações Unidas e todo o sistema internacional estão sendo testados e nós devemos passar neste teste".

Cúpula cancelada

Enquanto a ONU faz o alerta, a ideia de uma cúpula entre os presidentes Joe Biden e Vladimir Putin está cancelada. No início da semana, diante da possibilidade de um caminho diplomático para superar a atual tensão na Ucrânia, o presidente francês, Emmanuel Macron, revelou que havia obtido de Putin um compromisso de que um encontro com Joe Biden poderia ser realizado.

A Casa Branca rapidamente confirmou que, se não houvesse uma ação militar russa, a cúpula poderia de fato ocorrer. O Kremlin julgou que o anúncio havia sido precipitado.

Mas, mesmo assim, os preparativos tinham sido iniciados. Um primeiro passo seria a organização de uma reunião de emergência entre os chefes da diplomacia dos EUA e Rússia. O encontro estava sendo planejado para Genebra, nesta quinta-feira, reunindo Sergei Lavrov e Antony Blinken.

Mas com o reconhecimento da independência das províncias separatistas na Ucrânia por parte dos russos e de sinalizações de Putin de que ele poderia mandar tropas para essas regiões, os canais diplomáticos foram interrompidos. O temor é de que, sem interlocução e diante do acúmulo de sanções por parte do Ocidente, a tensão ganhe novos patamares nos próximos dias.