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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Países boicotam Rússia na ONU; Brasil não adere ao protesto

Colunista do UOL

01/03/2022 08h09Atualizada em 01/03/2022 15h30

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Em apoio à Ucrânia, embaixadores, ministros e diplomatas de diversos países promoveram um boicote na ONU (Organização das Nações Unidas) contra o governo da Rússia. Nesta terça-feira, quando o chanceler russo Sergey Lavrov tomou a palavra para se dirigir ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, os representantes diplomáticos se levantaram e deixaram a sala, em Genebra, em protesto.

O Brasil, porém, foi um dos países que permaneceu na reunião e não boicotou o chanceler russo.

De acordo com a delegação da Alemanha, 140 pessoas abandonaram a sala de reunião quando o representante do presidente Vladimir Putin tomou a palavra, numa sala com capacidade para 180 pessoas.

Lavrov deveria ter viajado até Genebra. Mas, com o espaço aéreo fechado e estando na lista de pessoas atingidas pelas sanções, o chanceler não pode deixar Moscou. Embaixadores europeus revelaram à coluna que havia um acordo para permitir a viagem. Mas Alemanha e Polônia fecharam o espaço aéreo e a Suíça abandonou sua tradicional neutralidade para seguir as sanções da UE.

De acordo com delegações que participaram do boicote, o gesto tinha como meta protestar contra os "atos de agressão" por parte da Rússia, além de dar um sinal de que Moscou está isolada e não conta com legitimidade internacional.

Um boicote semelhante já havia sido promovido, horas antes, durante a participação de Lavrov na Conferência de Desarmamento da ONU, também por vídeo conferência.

O Brasil, ao ficar na sala, confirmou sua intenção de manter uma postura de diálogo diante da crise. No fim de semana, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o país seria "neutro". Um dia depois, seu chanceler, Carlos França, esclareceu que não se tratava de uma neutralidade. Mas a busca por "equilíbrio".

O Brasil tem criticado na ONU o uso de sanções contra a Rússia e o envio de armas para a Ucrânia, insistindo que isso poderia abrir espaço para uma guerra ainda maior.

A atitude do Brasil contrasta com a posição que o governo Bolsonaro adotou na ONU diante de ministros do venezuelano Nicolas Maduro. Nos últimos anos, até a ministra Damares Alves deixou a sala das Nações Unidas diante da presença do discurso de representantes de Caracas.

Desta vez, o Brasil optou por não se mover, enquanto Damares ignorou a crise na Ucrânia em seu discurso na ONU nesta semana.

Ao tomar a palavra nesta terça-feira, Lavrov não poupou críticas contra o Ocidente, em especial aos EUA. Chamando Washington e seus aliados de "egoístas", o chanceler criticou a "histeria" contra a Rússia e a "obsessão" desses países por sanções unilaterais.

Segundo ele, o Ocidente "perdeu controle sobre sua vingança contra a Rússia e, agora, destrói as instituições que criou".

"A arrogância deve chegar a um fim", declarou Lavrov, num ato de desafio.