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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Rússia ataca população e hospitais, e ONU fala em possível crime de guerra

11.mar.2022 - Um ataque de mísseis foi lançado em Brovary, Ucrânia - Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia
11.mar.2022 - Um ataque de mísseis foi lançado em Brovary, Ucrânia Imagem: Serviço de Emergência do Estado da Ucrânia

Colunista do UOL

11/03/2022 07h22

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A ONU (Organização das Nações Unidas) denunciou hoje o que chamou de "ataques indiscriminados" por parte da Rússia na Ucrânia e alertou as autoridades do Kremlin de que algumas das atitudes poderiam configurar crimes de guerra, se confirmadas. A entidade também desmentiu a versão do governo russo de que uma maternidade atacada nos últimos dias não estava em operação e tinha sido transformada em abrigo para "nacionalistas ucranianos".

Nesta sexta-feira, a agência apontou que 549 pessoas morreram na guerra, além de haver outros 957 feridos. Mas disse que os números reais de vítimas são "muito superiores".

Numa coletiva de imprensa em Genebra, o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos insistiu que ataques contra civis ou ataques indiscriminados são proibidos e podem ser considerados como crimes de guerra.

No caso específico da Ucrânia, a ONU aponta para a existência de ataques indiscriminados, com o uso de explosivos em locais densamente ocupado por civis. A agência também denuncia bombardeios contra escolas e hospitais. Pelo menos 47 mortos foram registrados num deles em centros de saúde. A ONU também disse que houve o uso de munições proibidas e ataques contra 26 centros de saúde na Ucrânia.

Maternidade

Os números e alertas contrastam com a versão do chefe da diplomacia da Rússia, Sergei Lavrov, que insistiu nesta semana que Moscou não ataca civis e que uma maternidade atingida não estava funcionando e operava para esconder "nacionalistas ucranianos".

Para a porta-voz da ONU para Direitos Humanos, Liz Throssel, a informação que a agência tem é de que a maternidade era um "hospital em funcionamento", com pelo menos três setores para diferentes serviços. "Era um hospital e estava funcionando, com pessoas ali", disse a porta-voz, ao ser questionada pelo UOL.

Segundo ela, há uma suspeita de que os pacientes estavam escondidos nos porões do hospital.

"Em 9 de março, um ataque aéreo russo atingiu o Hospital Mariupol No.3, ferindo pelo menos 17 civis. Ainda estamos investigando relatos de que pelo menos três civis podem ter sido mortos no ataque aéreo", disse a porta-voz.

"Falamos com diferentes fontes em Mariupol, incluindo autoridades locais, indicando consistentemente que o hospital era claramente identificável e operacional quando foi atingido", completou.

"Ataques indiscriminados"

"Continuamos seriamente preocupados com o aumento do número de mortos e do sofrimento humano na Ucrânia e apelamos para o fim imediato dos ataques", afirmou.

"Civis estão sendo mortos e mutilados no que parecem ser ataques indiscriminados, com as forças russas usando armas explosivas com efeitos de área ampla em áreas povoadas ou próximas. Escolas, hospitais e jardins de infância foram atingidos - com consequências extremamente devastadoras", afirmou.

Segundo ela, em 3 de março, 47 civis foram mortos quando os ataques aéreos russos atingiram duas escolas e vários prédios de apartamentos em Chernihiv.

Crimes de guerra

Segundo a ONU, as vítimas civis estão aumentando diariamente. "Lembramos às autoridades russas que os ataques diretos contra civis e objetos civis, assim como os chamados bombardeios de área em cidades e outras formas de ataques indiscriminados, são proibidos pelo direito internacional e podem equivaler a crimes de guerra", alertou a porta-voz.

Ela fez um apelo para que partes "respeitem plenamente os direitos de todos sob seu controle". "Aqueles que depuseram suas armas por ferimentos ou detenção, incluindo prisioneiros de guerra, devem ser tratados humanamente e protegidos de qualquer forma de tortura ou tratamento degradante", insistiu.

Armas proibidas

A ONU, porém, afirmou que também recebeu "relatos confiáveis de vários casos de forças russas utilizando munições de fragmentação, inclusive em áreas povoadas".

"Em 24 de fevereiro, uma munição de fragmentação explodiu no Hospital Central City em Vuhledar, em Donetsk, controlado pelo governo, matando quatro civis, ferindo outros dez e danificando ambulâncias, veículos civis e o próprio hospital. Houve outros ataques de munição de fragmentação em vários distritos de Kharkiv, nos quais nove civis foram mortos e 37 feridos", denunciou.

Segundo a ONU, devido a seus amplos efeitos de área, o uso de munições de fragmentação em áreas povoadas é incompatível com os princípios do direito humanitário internacional que regem a condução de hostilidades.

A agência também alerta para as prisões e detenções arbitrárias de ucranianos. "Temos documentado casos individuais de tais prisões arbitrárias no leste da Ucrânia, mas fomos solicitados a não divulgar detalhes, pois há preocupações quanto à segurança daqueles que falaram conosco", declarou.

"Acreditamos que os detidos correm o risco de tortura ou outros maus-tratos e pedimos sua libertação imediata e incondicional. Também estamos preocupados com o uso pejorativo de etiquetas como 'sabotadores' e 'mercenários', com a intenção ou efeito de expor certos indivíduos a maiores riscos de danos", completou a porta-voz.