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Jamil Chade

REPORTAGEM

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"Celeiro do mundo", Ucrânia agora vive ameaça da fome, diz ONU

Mariupol já sofre com a falta de água e comida por causa da guerra - Alexander Ermochenko/Reuters
Mariupol já sofre com a falta de água e comida por causa da guerra Imagem: Alexander Ermochenko/Reuters

Colunista do UOL

18/03/2022 08h53Atualizada em 18/03/2022 13h50

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De uma das principais bases de exportação de cereais no mundo, a Ucrânia corre o risco de ver a volta da fome generalizada diante da guerra e dos cercos promovidos pelos militares russos. O alerta é da ONU (Organização das Nações Unidas) que, nesta sexta-feira, deixou claro que o abastecimento de água e alimentos na cidade de Mariupol está terminando, assim como em outras regiões sob ataques.

De acordo com Jakob Kern, coordenador do Programa Mundial de Alimentação da ONU, a entidade comprava da Ucrânia quase 50% de seu trigo que era distribuído aos países mais pobres e, nos últimos cinco anos, até deixou de dar qualquer assistência aos ucranianos.

Mas, em menos de um mês, tudo mudou. Hoje, a entidade se prepara para atender 3 milhões de ucranianos que correm o risco de não ter alimentos. Para isso, 12 mil toneladas de comida estão sendo levados ao país que era um "celeiro do mundo".

Além disso, o programa está distribuindo uma espécie de auxílio emergencial, em dinheiro, nas áreas onde ainda existe a produção local de comida.

De acordo com Kern, o sistema de abastecimento da Ucrânia entrou em colapso, enquanto cidades como Mariupol começam a ver o fim dos estoques de alimentos e água. Caminhões foram destruídos, assim como armazéns e supermercados.

Se mais de 3,1 milhões de pessoas deixaram o país, a ONU alerta que milhões estão presos em locais sob intenso combate.

Mas Kern indica que também está preocupado com o impacto que a guerra terá na luta contra a fome no mundo.

Juntos, russos e ucranianos representam 30% do comércio internacional do trigo. Hoje, segundo ele, esses embarques estão paralisados e o resultado tem sido um aumento de 24% nos preços da commodity.

De acordo com o programa da ONU, esse buraco no abastecimento global terá de ser substituído por outros fornecedores. Mas isso significa que os preços serão mais elevados.

Qualificando a crise como uma "catástrofe", a entidade destaca que suas operações para ajudar os países mais pobres terão um incremento de US$ 71 milhões (R$ 357 milhões) nos custos. Na prática, esse valor seria suficiente para alimentar 4 milhões de pessoas.

"O conflito leva a uma maior insegurança alimentar. E, por sua vez, a insegurança alimentar aumenta as probabilidades de agitação e violência. A Ucrânia é uma catástrofe que agrava o que já é um ano de fome catastrófica", alerta o representante.

Já Matthew Saltmarsh, porta-voz do Alto Comissariado da ONU pata Refugiados, disse que as necessidades humanitárias estão "aumentando exponencialmente".

"Para além daqueles que tiveram de fugir, cerca de 13 milhões de pessoas foram afetadas nas áreas mais duramente atingidas pela guerra na Ucrânia e necessitam de ajuda humanitária e de proteção", declarou.

Segundo ele, em Mariupol e Sumy os residentes enfrentem "carências críticas e potencialmente fatais de alimentos, água e medicamentos". Já em Odessa, as autoridades apelaram ao apoio internacional para cobrir as necessidades de cerca de 450 mil pessoas que estão sem alimentos.

Mais de 200 mil pessoas estão também sem acesso à água em várias localidades de Donetsk, enquanto os constantes bombardeamentos na região de Lugansk destruíram 80% de algumas localidades, deixando 97.800 famílias sem energia.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL