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Ciência russa vive isolamento e recria cenário da Guerra Fria
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Na ciência e em seus organismos internacionais, a ofensiva das potências ocidentais para isolar o presidente Vladimir Putin por conta de sua invasão ilegal da Ucrânia atingiu nos últimos dias um patamar que, segundo diplomatas, remonta ao cenário que chegou a ser visto na relação entre os EUA e a União Soviética, na Guerra Fria.
Se China, Índia, Brasil e outros emergentes são contrários ao movimento, americanos e europeus têm conseguido apoios para suspender os russos de programas internacionais e interromper projetos de cooperação que tinham sobrevivido por décadas.
A Academia de Ciências Russa tentou evitar o isolamento completo, emitindo uma declaração pedindo que a comunidade científica a "abster-se de posições e ações ditadas não pelos interesses da ciência, mas pelo ambiente político".
Mas seu apelo tem sido minado pela decisão de reitores de universidades russas de apoiar a guerra, o que deu espaço para que dezenas de entidades pela Europa e EUA optassem por romper acordos com os russos. Enquanto isso, na Unesco, a aprovação de uma resolução ainda denunciou a invasão e indicou a existência de uma ampla coalizão entre os países ricos do ocidente para usar a cultura e a ciência como instrumentos de pressão.
Diversos encontros científicos que estavam programas para ocorrer na Rússia já foram cancelados, entre eles o Congresso Internacional de Antropólogos e Etnólogos, programado para maio em São Petersburgo, e o Congresso Internacional de Matemáticos.
Uma das decisões mais importantes veio do CERN, o Centro Europeu de Pesquisas Nucleares. Por décadas, a maior instituição de pesquisas sobre a física orgulhosamente declarava que a ciência estava acima da ideologia e que, mesmo durante a Guerra Fria, pesquisadores do bloco soviético e do Ocidente cooperaram na busca de fazer avançar o entendimento do mundo.
Hoje, porém, a guerra na Ucrânia mudou toda a lógica, até mesmo da ciência. Os 23 estados membros do centro suspenderam a participação de cientistas do CERN em todos os comitês científicos de institutos localizados na Federação Russa e na República de Belarus. Também foram cancelados todos os eventos organizados conjuntamente pelo CERN e institutos localizados na Federação Russa ou na República de Belarus.
Ficou determinado ainda a suspensão da concessão de contratos de associação que conferem o status de associado ao CERN a qualquer nova pessoa afiliada a um instituto localizado na Federação Russa ou na República de Belarus.
O Instituto Conjunto de Pesquisa Nuclear também foi suspenso, enquanto o Conselho do CERN decidiu anular os acordos de cooperação internacional e protocolos de participação da Rússia nos programas científicos do CERN. "Os valores centrais da Organização sempre se basearam na colaboração científica além fronteiras como um instrumento de paz. Portanto, a agressão de um país contra outro é contrária aos valores da Organização", declarou.
Para completar, o centro de pesquisas ainda vai seguir as orientações da Europa e EUA e interromper qualquer tipo de exportação de tecnologia para a Rússia.
Nem a URSS e nem a Rússia fizeram parte do CERN como membros plenos. Mas, segundo a entidade, a cooperação com os cientistas russos começou ainda em 1964.
O isolamento não se limitou ao maior centro de físicas do mundo. Nos EUA, o MIT colocou um fim a um acordo de mais de uma década com o centro tecnológico da Rússia, Skolkovo.
Outro projeto europeu, o Laser X Free-Electron da UE (XFEL) também anunciou que iria evitar acordos com os russos e suspendeu os entendimentos existentes.
Também está sendo negada aos cientistas russos a publicação de seus trabalhos nas principais revistas de pesquisa ocidentais que publicavam regularmente seus trabalhos no passado.
Já entre os pesquisadores, uma onda de recusas de publicar artigos científicos toma conta das principais revistas no ocidente. Um dos afetados foi Vadim Batayev, um dos principais pesquisadores do Laboratório de Espectroscopia Molecular da Faculdade de Química da Universidade Estadual de Moscou.
Segundo ele, o International Journal of Molecular Structure rejeitou sua pesquisa. "Os editores da revista decidiram proibir os manuscritos recebidos de instituições e cientistas russos. Eles dizem que tal decisão está relacionada com a operação especial da Federação Russa na Ucrânia", disse Batayev, usando a terminologia aceita pelo Kremlin para falar da guerra. Muitos, porém, irão buscar a partir de agora revistas asiáticas.
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