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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Brasil doa R$ 412 milhões para Covax e sinaliza fim de compras de doses

Logo da OMS em Genebra - Denis Balibouse/Reuters
Logo da OMS em Genebra Imagem: Denis Balibouse/Reuters

Colunista do UOL

08/04/2022 14h11

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O Brasil informou que irá fazer uma doação de US$ 87 milhões (R$ 412 milhões) para a Covax, o sistema criado pela OMS e governos de todo o mundo para garantir a distribuição de vacinas contra a covid-19. O governo ainda sinalizou que não irá mais solicitar novas vacinas da agência para o ciclo de 2022, permanecendo apenas com os contratos que mantém com multinacionais e a produção local.

O gesto brasileiro marca uma mudança profunda da postura do governo que, por meses, esnobou a existência do mecanismo, em 2020. Naquele momento, a coluna questionou o Ministério da Saúde sobre a falta de interesse. A resposta indicou que o governo estava avaliando "outras alianças", sem jamais especificar quais seriam.

O Brasil apenas entrou no sistema após pressão até mesmo por parte de senadores e da sociedade civil. E quando o fez, o Itamaraty e o Ministério da Saúde solicitaram o menor volume de vacinas permitido pelo acordo, suficiente para apenas 10% da população nacional.

Nesta sexta-feira, uma cúpula foi organizada para levantar recursos que permitam que a Covax possa comprar vacinas em 2022 e distribuir aos países em desenvolvimento. A meta da OMS é de conseguir que cada país imunize 70% de sua população até meados do ano. Depois de um início fraco e com o produto concentrado apenas nas mãos de poucos países, a esperança da agência de Saúde da ONU é de que a vacinação possa ser acelerada durante o ano.

Se isso ocorrer, a OMS estima que o mundo pode deixar a fase aguda da pandemia, ainda que o vírus continuará a circular.

A cúpula foi organizada pela Alemanha, Indonésia e Senegal ocupando as presidências do G7, G20 e União Africana, respectivamente. No total, governos garantiram US$ 4,8 bilhões para a Covax.

"Os compromissos assumidos permitirão ao mecanismo fornecer apoio urgente de entrega para países de baixa renda e garantir que as doações de doses possam ser enviadas e administradas", explicou a entidade, num comunicado.

Entre os anúncios de doações está a do Japão, com US$ 500 milhões e 400 milhões de euros por parte da Alemanha. O Canadá prometeu CAD 220 milhões, enquanto o Brasil prometeu US$ 86,7 milhões. Já a Comissão Europeia ofereceu outros 75 milhões de euros.

A coluna apurou que, além de fazer a doação de recursos, o Brasil não fará uma nova solicitação de vacinas da entidade internacional para 2022.

"Acolhemos com satisfação esta incrível demonstração de solidariedade global de tantas partes interessadas em um momento em que o mundo enfrenta múltiplos desafios", disse José Manuel Barroso, Presidente do Conselho de Administração da Gavi, a aliança mundial de vacinas.

"Esta pandemia não terminou: enquanto as lacunas na cobertura permanecerem, ela continuará a causar estragos em indivíduos, comunidades e economias", disse. Em 2021, a Covax enviou mais de 1,2 bilhão de doses de vacina.

Olaf Scholz, chanceler da Alemanha e presidente do G7, também insistiu que é "importante garantir que o resto do mundo seja vacinado".

"A pandemia da COVID-19 está longe de ter terminado", disse Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

"A transmissão permanece alta, e a cobertura vacinal permanece muito baixa em muitos países", disse. "Só podemos terminar a fase aguda da pandemia apoiando todos os países a vacinar 70% de suas populações, com prioridade para os trabalhadores da saúde, idosos e outros grupos em situação de risco. Os investimentos na COVAX não são simplesmente investimentos em vacinas. São investimentos em equidade, em solidariedade, numa recuperação global inclusiva e num futuro mais saudável, mais seguro e mais justo para todos nós", completou.