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Biden falará com Bolsonaro sobre "eleição democrática" no Brasil
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Resumo da notícia
- Casa Branca não descarta trazer para o debate o desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira, na Amazônia
- Ativista americano Ken Roth alerta que Biden mostrará se está "com o povo brasileiro ou com Bolsonaro"
O presidente Joe Biden promete tocar no tema da eleição no Brasil, quando se encontrar nos próximos dias com o presidente Jair Bolsonaro. Os dois líderes nunca se falaram, apesar dos repetidos pedidos por parte do Palácio do Planalto para que uma aproximação fosse realizada. Mas, para garantir que a Cúpula das Américas não fracassasse, Biden ofereceu um encontro com Bolsonaro.
De acordo com o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, o encontro entre os dois presidentes promete tocar em temas substanciais. Segundo ele, Biden irá trazer para a mesa a questão de "eleições democráticas, transparentes e abertas" com Bolsonaro. A declaração foi dada no avião que levava a delegação da Casa Branca para Los Angeles, onde acontece a cúpula, e foi relatada por agências como Reuters.
No mês passado, um outro enviado americano foi até Brasília dar um recado muito claro de que o governo Biden não via com bons olhos a tentativa de Bolsonaro de questionar o sistema de urnas do Brasil. O tom usado foi interpretado em Brasília como um alerta de que a Casa Branca não endossará uma ruptura política no país.
Bolsonaro tem causado a preocupação internacional diante de suas ameaças de que não irá reconhecer uma eventual derrota. Personalidades como Steve Levitsky, da Universidade de Harvard, chegaram a indicar que a democracia brasileira vive um momento ameaçador.
Para o encontro entre os dois líderes, outro assunto será a questão climática. Mas Sullivan indicou que não saberia ainda se Biden mencionaria o desaparecimento do britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, na Amazônia nesta semana. Segundo ele, o assunto não está descartado e, se a equipe do presidente Biden acreditar que isso poderá ajudar, o tema pode ser evocado.
Nesta semana, o enviado de Biden para o Clima, John Kerry, indicou que iria acompanhar o caso, depois de uma conversa com a líder indígena Sonia Guajajara.
Apesar das promessas da Casa Branca, o encontro é visto com desconfiança por parte de algumas das principais vozes dos EUA. O ativista de direitos humanos nos EUA Kenneth Roth questionou nesta quarta-feira o comportamento do presidente Joe Biden por receber o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.
Roth, diretor-executivo da entidade Human Rights Watch, cobrou uma declaração substancial por parte de Biden diante de um líder que, segundo ele, ameaça a democracia. "O governo Biden tem duas mentalidades sobre direitos humanos. Por vezes, eles defendem os direitos humanos. Por vezes, ficam aquém", disse Roth nesta quarta-feira em um evento em Genebra.
"No encontro com Bolsonaro, gostaria de ver o que Biden dirá. Lamentavelmente, Biden tem a tendência de encontrar com líderes que abusam de direitos humanos e apenas diz que discutiram direitos humanos, sem nada mais. E isso é sem sentido. Ninguém sabe o que foi dito. As pessoas daquele país ficam sem saber", criticou.
"No Brasil, existe uma sociedade civil muito desenvolvida. Imprensa forte e ativistas. O Judiciário e o Congresso operam de forma significativa e limitam as ações de Bolsonaro", afirmou. "Portanto, os comentários públicos de Biden importam muito", insistiu.
Para Roth, Biden vai "mostrar se ele está ao lado das pessoas do Brasil ou se está com um "projeto de Trump", que ameaça minar as próximas eleições". O ativista lembra como Bolsonaro passou a antecipa uma fraude na eleição, antes mesmo dela ocorrer.
O alerta de Roth ocorre um dia depois que Biden recebeu uma carta de mais de 70 entidades brasileiras apelando ao americano para que use o encontro com Bolsonaro para cobrar respeito à democracia e eleições justas.
A carta fazendo o pedido ao presidente americano foi assinada por mais de 70 entidades, entre elas a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, Artigo 19, Comissão Arns, Conectas Direitos Humanos, Greenpeace Brasil, Instituto Vladimir Herzog, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e a Washington Brazil Office. O UOL foi informado que o documento chegou até a equipe de Biden.
"Entendemos seus objetivos de reunir as Américas através da Cúpula, especialmente diante da crise na Europa. No entanto, enviamos esta carta para exortá-lo, durante sua reunião, a defender firmemente a democracia, eleições livres e justas, a ação climática e a proteção essencial da floresta tropical. Se a democracia brasileira cair, Sr. Presidente, todos os seus esforços para "Construir um futuro sustentável, resistente e equitativo" na Cúpula das Américas terão sido em vão", apontam as entidades.
"Como organizações da sociedade civil brasileira, expressamos nossa preocupação de que o presidente Jair Bolsonaro estará usando sua próxima reunião com o senhor para reivindicar que sua administração endossa seus ataques à democracia, eleições livres e justas, ao meio ambiente, à ciência, aos direitos humanos básicos e à Floresta Amazônica", alertam.
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