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Após atacar vacina chinesa, Bolsonaro elogia cooperação com Pequim na covid
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Rompendo uma postura que marcou sua presidência, Jair Bolsonaro usou a cúpula dos Brics nesta quinta-feira para tecer elogios aos chineses, agradecer e acenar para Vladimir Putin, promover a ideia de uma aliança estratégica e pedir que os países emergentes aumentem seu peso nas decisões internacionais.
O brasileiro ainda repetiu a postura tradicional do Itamaraty, pedindo a reforma do Conselho de Segurança, do Banco Mundial e do FMI para dar maior voz às economias emergentes.
Em seu discurso, Bolsonaro ainda destacou como a cooperação com Pequim foi positiva e que a forma de lidar com a pandemia da covid-19 foi um exemplo dessa parceria.
Segundo ele, essa relação trouxe "benefícios concretos para os nossos povos, como demonstrado pela nossa cooperação durante a pandemia da covid-19".
A frase, dita diante do presidente da China, Xi Jinping, contrasta com os frequentes ataques que Bolsonaro fez contra as vacinas chinesas, chegando a questionar a eficácia e segurança das doses. Os chineses tinham fechado um acordo com o então governador de São Paulo, João Doria. Mas Bolsonaro atuou abertamente para minar a credibilidade do produto chinês.
Em seu discurso nesta quinta-feira, porém, o brasileiro optou por elogiar a China. Referindo-se à visita ao país asiático ainda em 2019, ele destacou a forma pela qual foi recebido e indicou que a reunião serviu para "avançar na parceira estratégica, com benefícios concretos para nossos povos".
Reforma do Conselho de Segurança e maior peso para emergentes.
O presidente brasileiro repetiu ainda o mesmo discurso de todos os demais presidentes brasileiros desde os anos 90, pedindo uma reforma das entidades internacionais para que possam refletir melhor o peso dos países emergentes.
"Devemos somar esforços em busca das reformas das organizações internacionais, como o Banco Mundial, o FMI e o sistema das Nações Unidas, em especial o seu Conselho de Segurança. O peso das economias emergentes e em desenvolvimento devem ter a devida e merecida representação", disse.
Bolsonaro agradece Putin por recepção
O encontro é o primeiro entre os líderes de China, África do Sul, Brasil, Rússia e Índia desde o início da guerra na Ucrânia. Trata-se, também, do retorno do presidente russo Vladimir Putin ao palco internacional para uma cúpula, ainda que todos estejam em um encontro apenas virtual. Para diplomatas, a mera presença do chefe do Kremlin em um evento internacional já é considerada como uma mensagem política forte de que não está isolado.
Por vídeo, Bolsonaro evitou falar da guerra e sequer citou a situação das sanções. Mas fez em diversos momentos sinais positivos para os demais líderes, arrancando de volta de Putin um raro sorriso.
Ao falar da relação "estratégica" com os demais países do bloco, Bolsonaro também recebeu uma sinalização de que Putin estava de acordo com ele. O brasileiro, de fato, aproveitou para agradecer e dizer que o russo lhe recebeu "muito bem" em fevereiro, dias antes da eclosão da guerra.
Durante os minutos em que a reunião foi transmitida, Bolsonaro não tocou no tema da guerra. Mas os líderes ficaram praticamente uma hora sem a presença de câmeras.
O brasileiro insistiu que o bloco dos países emergentes tem "contribuído para a prosperidade" das economias e que é o "modelo de cooperação baseado em ganhos para todos".
Mas ele mandou um recado velado, alertando que a agenda do grupo deve ser estabelecida de forma "responsável e transparente". A China esperava conseguir um apoio mais explícito do bloco ao governo de Putin, além de uma chancela para o início da expansão do grupo. O Brasil era contra a pressão chinesa neste sentido.
Mesmo assim, Bolsonaro indicou que o grupo deve ser um fator de estabilidade e prosperidade no mundo.
Também em uma mensagem velada aos demais países, o presidente brasileiro reiterou que sua política externa tem como meta o desenvolvimento econômico e social do país, o que foi interpretado como um sinal de que não estaria disposto a se submeter às pressões de Pequim. "É preciso estar atento sempre para que (a política externa) gere prosperidade e paz", indicou.
Ao tomar a palavra, Putin repetiu sua sinalização feita na quarta-feira de que está disposto a redirecionar a economia russa em direção aos emergentes e aos Brics. Isso, claro, depois da imposição de sanções contra sua economia por parte de Europa e EUA.
O russo também criticou o ocidente, indicando que "ameaças e desafios" levam os emergentes a ter de buscar respostas unidas. Segundo ele, o bloco vem ganhando um peso econômico e político cada vez maior no cenário internacional.
Mas não deixou ainda de atacar Europa e EUA que, segundo ele, estariam transferindo ao mundo por meio de mecanismos financeiros seus próprios "erros na macroeconomia".
China pede fim de "mentalidade de Guerra fria" e manda recado para ocidente
Já Xi, o anfitrião, deixou claro que tem ambições elevadas com os Brics. Segundo ele, o bloco precisa "assumir suas responsabilidades" e participar de uma "nova era" no mundo.
O chinês usou ainda seu discurso para voltar a criticar as potências ocidentais. "Precisamos abandonar a mentalidade de Guerra Fria e abandonar as sanções unilaterais", disse.
Defendendo o que ele chamou de "verdadeiro multilateralismo", Xi ainda atacou grupos e governos quem buscam estabelecer "hegemonias".
Xi ainda mandou um recado direto às potências ocidentais. Segundo ele, a globalização econômica vive resistências e atacou governos que estão optando por protecionismo. "Há uma preocupação global de que, se isso continuar, a economia global vai se compartimentar e ser mutualmente excludente, disse.
O chinês insistiu que a globalização econômica é uma "tendência histórica irreversível" e qualquer um que tentar "bloquear o caminho dos outros terá seu caminho bloqueado".
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