Topo

Jamil Chade

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Sob Bolsonaro, maior fundo soberano do mundo corta quase R$ 19 bi no Brasil

Colunista do UOL

24/08/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O maior fundo soberano do mundo reduziu seus investimentos no Brasil em US$ 3,69 bilhões (cerca R$ 18,8 bilhões) entre 2019 e 2021, período que coincide com o governo de Jair Bolsonaro (PL).

Alimentado principalmente com a renda do petróleo, o Fundo de Pensão do Governo na Noruega destina seus recursos para mais de 11 mil empresas e projetos em 69 países pelo mundo. Ao contrário do que fez no Brasil, o fundo ampliou seus investimentos no mundo, passando de US$ 1,1 trilhão em 2019 para US$ 1,4 trilhão ao final de 2021.

No Brasil, porém, o volume vem caindo, assim como a proporção do país no total de investimentos pelo fundo. Em 2019, os escandinavos destinavam US$ 9,6 bilhões ao Brasil, dos quais 10% iam para a Petrobras. Um ano depois, o valor foi de US$ 6,8 bilhões.

Se no final de 2019 os noruegueses destinavam 0,9% do fundo ao Brasil, a taxa caiu para 0,5% em 2020. No total, 151 empresas brasileiras contam com recursos ou investimentos dos noruegueses, incluindo bancos, empresas aéreas, varejo, transporte e saneamento.

Em 2021, o volume de investimentos voltou a cair. Ao final do ano passado, o fluxo foi de US$ 6 bilhões, apenas 0,4% de todo fluxo de recursos do fundo norueguês ao mundo. Pela cotação do dólar naquele momento no final do ano passado, o valor do corte significava praticamente uma redução de 20 bilhões de reais nos fluxos ao país.

Procurado, o fundo afirmou que não faria comentários sobre mercados específicos. Mas indicou que seus fluxos seguiam também os índices da FTSE Global, que mede o desempenho das maiores economias do mundo e cerca de 9.000 empresas com ações nas bolsas.

Mas a queda também coincide com uma suspensão de empresas brasileiras da lista de beneficiários dos valores destinados pelos escandinavos.

Uma das empresas afetadas foi a Vale, depois de uma avaliação do risco que a empresa representa para "danos ambientais graves". "Foi recomendado que a Vale fosse excluída em decorrência de repetidas rupturas de barragens", explicou a entidade, num comunicado naquele momento.

O Conselho de Ética do Fundo ainda explicou que a recomendação pela exclusão da Vale ocorre "devido a um risco inaceitável de que a empresa esteja contribuindo ou seja ela própria responsável por graves danos ambientais".

"A Vale é o maior produtor mundial de minério de ferro e se envolve em diferentes tipos de mineração e outras operações em aproximadamente 30 países. Em novembro de 2015, uma barragem de rejeitos falhou em uma mina no Brasil pertencente à Samarco, uma joint venture 50/50 entre a Vale e a BHP Billiton. O incidente causou a morte de 19 pessoas e teve sérias consequências ambientais. O relatório de um inquérito encomendado pela BHP Billiton apontou sérios defeitos na barragem. Os defeitos eram de tal natureza que era provável que a empresa tivesse conhecimento deles", apontou.

"Em janeiro de 2019, outra das barragens de rejeitos da Vale no Brasil entrou em colapso, causando um total provisório de 237 fatalidades", lembrou o órgão do fundo, em junho de 2019. O Norge Bank, onde o Fundo opera, anunciou sua decisão de excluir a empresa dos investimentos em 12 de maio de 2020.

O Fundo, neste período, ainda decidiu excluir a Eletrobras de seus investimentos "devido ao risco inaceitável de que a empresa contribua para violações graves ou sistemáticas dos direitos humanos". "Foi recomendado que a empresa fosse excluída devido a violações de direitos humanos relacionadas com o desenvolvimento da usina de Belo Monte no Brasil", explicaram.

Antes, em 2018, o Conselho de Ética do fundo também recomendou a exclusão da JBS AS "devido ao risco de corrupção". "Ex-membros da administração e do conselho de administração da JBS admitiram subornar mais de 1.800 políticos de 28 partidos políticos diferentes no Brasil nos últimos 10-15 anos", indicou.

O UOL News vai ao ar de segunda a sexta-feira em três edições: 8h, 12h e 18h, sempre ao vivo.

Quando: de segunda a sexta às 8h, 12h e 18h.

Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL. Veja a íntegra do programa: