Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Carta aberta ao ex-presidente Lula
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Caro presidente Lula,
Escrevemos essa carta com a esperança de que esses parágrafos lhe encontrem bem, firme e disposto para a luta que nos aguarda não somente durante o segundo turno dessas eleições, mas ao longo dos próximos anos.
Hoje, escrevemos para lhe fazer um apelo: durante os debates do segundo turno, exponha a integralidade dos horrores bolsonaristas e fale aos corações das mães brasileiras.
Veja, presidente, entendemos que a sua forma de fazer política remete à construção de uma pátria soberana via o caminho do amor, do desenvolvimento nacional e da conciliação.
Entendemos também que o teu projeto visa a emancipação do nosso povo, sobretudo das classes trabalhadoras e mais empobrecidas deste imenso país e que, desta forma, o senhor está habituado a debater propostas que sejam construtivas no sentido de alcançar esses objetivos. Durante os seus anos frente à chefia do Executivo, o senhor demonstrou essas características de forma bastante clara e os resultados foram evidentes.
Compreendemos ainda que o povo brasileiro não aceita bem bate-bocas ou ataques sórdidos de nenhuma natureza. Assim, não é isso que lhe pedimos durante a etapa derradeira dessas eleições. Contudo, com a alegria e o carisma que lhes são peculiares, propomos que tua campanha desnude todos os horrores, crimes e a hipocrisia do atual governo, o que, ao nosso ver, não foi feito durante o primeiro turno da disputa.
Por exemplo, Bolsonaro enalteceu, publicamente e de forma reiterada, figuras abjetas como o ditador Brilhante Ustra. Como o senhor bem sabe, Ustra, durante o regime militar, colocava ratos nas vaginas e madeiras nos ânus das opositoras ao regime, conduzia estupros, espancamentos e afogamentos. Algumas vezes, tais crimes eram consumados na presença de crianças, as filhas e os filhos das pessoas que eram submetidas às sevícias do ídolo do atual presidente.
Fatos como esses precisam ser relatados à população de forma mais ampla durante os próximos debates. Principalmente, porque a maioria do eleitorado nacional é formada por mulheres e o apelo aos corações das mães brasileiras, neste caso, seria inexorável. Pesquisas demonstram que 90% dos brasileiros sequer sabem o que foi o Ato Institucional nº 5! Essa é uma medida fulcral para garantir que as mulheres, sobretudo as que pertencem à parcela evangélica da nossa população, não sejam facilmente coagidas pelos seus respectivos maridos a votarem no atual presidente.
O bolsonarismo incorreu ainda em uma série de crimes que sequer foram devidamente mencionados ao longo dos últimos debates: rachadinha, 51 imóveis em dinheiro vivo, participação em milícias, caso Marielle Franco, negacionismo e genocídio durante a covid-19 etc. A lista é extremamente forte e longa.
Além disso, Bolsonaro, apesar de se vender como cristão fervoroso que é radicalmente contra o aborto, disse em entrevista que, para ele, a "escolha é do casal" e que o seu próprio filho Jair Renan Bolsonaro somente nasceu porque "a mãe insistiu" na gestação. Disse também que, certa vez, quase "comeu um índio e queria ver o índio sendo cozinhado". Nesse sentido, a nação brasileira precisa entender de forma mais clara o tipo de figura nefasta, hipócrita e anticristã que ocupa a Presidência da República atualmente.
Sabemos que o senhor é a figura pública mais demandada do país, mas sentimos a urgência de lhe fazer esse apelo no momento em que Bolsonaro apela para o discurso religioso e sob pena de termos que conviver outros quatro anos com o governo mais deletério que já assombrou a nossa nação, o que, seguramente, significaria o fim do Brasil e do projeto que o senhor representa.
Saudações democráticas
Cesar Calejon* e Jamil Chade
*Jornalista, mestre em Mudança Social e Participação Política pela USP com especialização (MBA) em Relações Internacionais pela FGV, e escritor, autor dos livros A ascensão do bolsonarismo no Brasil do Século XXI, Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil.
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