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Ausente de cúpulas, Bolsonaro tem fim melancólico de seu governo no mundo
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O governo de Jair Bolsonaro terminou de forma melancólica sua presença no mundo, ausente das principais cúpula de 2022 e ignorado por autoridades internacionais. Nem para a Copa do Mundo, no Qatar, o presidente derrotado em sua campanha eleitoral deve ir e, para observadores estrangeiros e brasileiros, o Planalto paga caro por quatro anos de uma política externa nem sempre coerente, além de um líder com uma imagem tóxica no exterior.
Para a Cúpula do Clima, que ocorre no Egito desde o início da semana, Bolsonaro nem sequer cogitou uma participação, e seu mandato termina pela primeira vez sem que o presidente brasileiro tenha participado sequer de um encontro sobre o clima, liderado pela ONU. No total, mais de 90 chefes de estado estarão no evento no Egito, além de dezenas de chefes de governos, ministros e autoridades do mais alto escalão.
O espaço do Brasil, de fato, será ocupado por Luiz Inácio Lula da Silva que, na próxima semana, corre o risco de roubar as atenções do mundo ao desembarcar no Egito com uma agenda ambiental e uma nova inserção internacional para o país. Entre seus aliados mais próximos, a estratégia é a de usar a Amazônia como parte da recuperação internacional da imagem e credibilidade do país.
Mas o fim melancólico da diplomacia de Bolsonaro não se limita apenas aos temas ambientais. Antes de retornar ao Brasil, Lula fará uma parada de dois dias em Portugal, onde quer usar o encontro para mandar uma mensagem de uma nova relação que pretende estabelecer com a Europa.
Bolsonaro, apesar de ter feito escalas em Lisboa, jamais realizou uma visita oficial ao governo português. O Itamaraty chegou a bater à porta de vários governos europeus ao longo dos últimos anos, para tentar uma visita de estado. Mas a recusa foi generalizada. Nos últimos meses, em locais como Paris, a ordem dentro das chancelarias é a de manter o mínimo contato possível com as autoridades brasileiras. Depois de determinado o resultado das eleições, algumas embaixadas estrangeiras em Brasília optaram por adiar tudo o que não for urgente com as autoridades brasileiras para 2023.
O fim do governo ainda poderá ser marcado por um gesto inédito: uma ausência do chefe de governo na principal cúpula anual do G20, que neste ano ocorre em dez dias na Indonésia. Está confirmada a presença do chanceler Carlos França. Mas, até a quinta-feira, o Itamaraty não sabia dizer se Bolsonaro iria ou não ao evento.
Fontes no alto comando da diplomacia nacional informaram ao UOL que Bolsonaro não iria. Mas algumas das principais vozes entre seus assistentes ainda estariam tentando convencê-lo da importância da participação institucional da presidência.
Se confirmada sua decisão de não viajar, diplomatas estrangeiros apontam que ficaria sedimentada a irrelevância internacional de Bolsonaro e a ausência seria um "requiem" de um governo que apequenou o Brasil no mundo.
Já em 2021, na cúpula do G20 em Roma, Bolsonaro viveu uma situação de pária internacional, ignorado pelos demais líderes e com uma agenda completamente esvaziada. Mais recentemente, em Nova York, ele voltou a ver sua passagem pela Assembleia Geral das Nações Unidas marcada por uma ausência de encontros de alto escalão e chegou a faltar na reunião que teria com Antonio Guterres, secretário-geral da entidade.
Até agora tampouco está confirmada sua participação na Cúpula do Mercosul, marcada para ocorrer no Uruguai em três semanas. O bloco jamais foi sua prioridade e a ausência política do Brasil nos últimos quatro anos contribuiu para enfraquecer os projetos de integração.
Tampouco ficou sem resposta o convite feito pelo Qatar para que o presidente brasileiro esteja na Copa do Mundo, que ocorre a partir do final do mês. É tradição que o chefe de estado do país que eventualmente chegue à final esteja presente no jogo. No caso de Bolsonaro, essa final ocorreria poucos dias antes do final de seu mandato.
Na ONU, na próxima segunda-feira, uma sabatina que estava sendo planejada há meses para ocorrer com o governo de Jair Bolsonaro para avaliar suas políticas de direitos humanos promete se transformar em uma avalanche de denúncias contra a gestão que assumiu o poder em 2019 e que, em quatro anos, desmontou uma parcela importante das estruturas que defendem direitos fundamentais no país.
Transições institucionais
Em diversos governos, porém, cúpulas ocorrem em meio às transições de poder. Em 2021, no G20, a conservadora Angela Merkel levou ao seu lado para o encontro com os demais líderes o socialista Olaf Scholz, que iria assumir o governo alemão em poucas semanas.
Em 2008, o governo de George W. Bush manteve a equipe do então presidente eleito Barack Obama informada de todos os passos nas reuniões ministeriais e cúpulas daquele momento de crise financeira internacional.
Nos anos 90, Itamar Franco levou Fernando Henrique Cardoso para a Cúpula das Américas, com o mesmo objetivo de apresenta-lo ao mundo e mostrar que as transições em democracia poderia ocorrer sem contratempos.
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