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Jamil Chade

REPORTAGEM

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Em prisão domiciliar, afegãs vivem "pior repressão" do mundo, constata ONU

 Talibã proíbe que mulheres frequentem universidades no Afeganistão  -  O Antagonista
Talibã proíbe que mulheres frequentem universidades no Afeganistão Imagem: O Antagonista

Colunista do UOL

08/03/2023 12h52

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Em 2002, depois de anos sob o regime do Talibã, as mulheres afegãs finalmente comemoraram o Dia Internacional da Mulher. Em uma marcha e em eventos na sede da ONU em Cabul depois da queda do governo ultraconservador, o tom era de que uma nova era estava começando. A promessa era de que aquelas mulheres e meninas teriam um futuro e fariam parte da construção do futuro do Afeganistão.

Nas declarações oficiais da ONU, aquele 8 de março de 2002 se transformou num dia de denúncia contra um regime que simbolizava uma "afronta a todos os padrões de dignidade e humanidade".

Nos anos seguintes, os avanços foram reais, ainda que repletos de obstáculos.

Mas, hoje, a ONU admite que a volta do Talibã ao poder em 2021 erradicou todas as conquistas dos últimos 20 anos. E nenhuma potência jamais indicou que faria qualquer gesto ou operação para resgatar aquelas mulheres.

Nos primeiros dias da tomada de Cabul, o grupo extremista fez declarações ao mundo de que iria mudar, que desta vez não iria agir contra as mulheres e sinalizaram que poderiam manter o diálogo com a comunidade internacional.

Mas tudo não passou de um teatro, tanto por parte dos afegãos como da comunidade internacional.

Hoje, de acordo com uma declaração feita pela ONU nesta quarta-feira, "às mulheres são negados seus direitos e liberdades fundamentais, incluindo os direitos à educação, ao trabalho, ao mais alto padrão atingível de saúde física e mental, à liberdade de movimento e à liberdade do medo e da necessidade e da discriminação".

  • As meninas no Afeganistão foram banidas da escola secundária e as mulheres da educação terciária.
  • No total, 2,5 milhões de meninas afegãs estão fora da escola, 80% de todas as que deveriam estar em salas de aula. Se inicialmente as autoridades justificaram que existia falta de professores e de infraestrutura escolar para a segregação de gênero, os motivos foram sendo construídos para manter as escolas fechadas.
  • Mulheres e meninas foram proibidas de entrar em parques de diversão, piscinas públicas, ginásios e clubes esportivos por quatro meses.
  • As mulheres foram proibidas de trabalhar em escritórios de ONGs.
  • As mulheres foram totalmente excluídas dos cargos públicos e do judiciário.
  • As mulheres e meninas do Afeganistão são obrigadas a aderir a um rigoroso código de vestuário e não estão autorizadas a viajar mais de 75 km sem um mahram, seu guardião.
  • No restante do tempo, elas são obrigadas a ficar em casa.

"Em todo o país, as mulheres relatam sentir-se invisíveis, isoladas, sufocadas, vivendo na prisão como se estivessem em condições", disse o comunicado da ONU.

"Muitas não podem ter suas necessidades básicas atendidas sem acesso a emprego ou ajuda, incluindo acesso a assistência médica e apoio psicológico, em particular para as vítimas de violência, incluindo a violência sexual", destaca.

Para a entidade, trata-se de um "recado sóbrio de como os direitos das mulheres e meninas podem ser tirados com rapidez e agressividade".

Não por acaso, a ONU aponta que o Afeganistão sob o governo Talibã é o "país mais repressivo do mundo" para os direitos das mulheres, com as autoridades de fato aprisionando mulheres e meninas em suas casas.

"Tem sido angustiante testemunhar seus esforços metódicos, deliberados e sistemáticos para empurrar as mulheres e meninas afegãs para fora da esfera pública", disse Roza Otunbayeva, chefe da missão da ONU no Afeganistão, em uma declaração marcando o Dia Internacional da Mulher.