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'Embaixada fantasma' de Bolsonaro no Golfo gerou desconfiança na diplomacia
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No final de 2021, o governo de Jair Bolsonaro inaugurou, em Manama, a embaixada do Brasil no Bahrein. Sua visita ao local foi a primeira de um chefe de Estado brasileiro ao país do Oriente Médio e, no discurso perante os representantes de ambos os países, o então presidente afirmou:
É do coração essa aproximação (com o Bahrein)."
Dentro do Itamaraty e no Palácio do Planalto, fontes confirmam que a abertura da embaixada ocorreu por pressão da família Bolsonaro. Um especial interesse pelo país vinha do deputado Eduardo Bolsonaro, que passou a ser um frequente visitante ao Golfo.
Embaixada fantasma
A abertura da embaixada, porém, não foi seguida pela designação de um embaixador brasileiro para o posto. Isso fez aumentar ainda mais as suspeitas dentro da chancelaria.
Procurado, o Itamaraty confirmou que o cargo ficou vago durante todo o governo Bolsonaro.
O gesto de deixar o posto sem embaixador foi interpretado por alguns dos principais diplomatas brasileiros como uma manobra para impedir que o órgão de Estado ficasse informado sobre a natureza das relações entre o Palácio do Planalto e o país do Golfo.
Na embaixada, foi colocada apenas uma pessoa que atuou como encarregado de negócios. Na prática, tratou-se de uma representação sem qualquer poder político, em um dos níveis mais modestos dentro da hierarquia do Itamaraty.
Com o fim do governo Bolsonaro, a administração Lula ficou com um impasse diante da nova embaixada fantasma. O Itamaraty, porém, considerou que fechar o posto mandaria um sinal negativo e optou por mantê-lo. Um diplomata, Adriano Pucci, foi designado para liderar o posto.
A relação Brasil-Bahrein
A iniciativa de abrir uma nova embaixada ocorria enquanto o Brasil acumulava dívidas inéditas com os organismos internacionais, perdia o direito de voto em agências da ONU e ainda instruía diplomatas brasileiros a apertar os cintos diante da falta de verbas, adiando até mesmo o pagamento de contas de luz e aluguéis.
Brasil e Bahrein estabeleceram relações diplomáticas em 1971, mas a representação nacional era feira a partir da embaixada do Brasil no Kuwait. Em 2022, o comércio entre os dois países foi de US$ 1,3 bilhão. Se o valor vem se expandindo nos últimos anos, ele representa apenas 0,3% das vendas externas do país.
Naquele mesmo momento, o Bahrein anunciaria também a abertura de sua embaixada em Brasília, a primeira do país na América Latina.
Um mês depois da abertura da embaixada, Eduardo Bolsonaro propôs a criação de um grupo parlamentar Brasil-Bahrein.
O grupo seria formado apenas oito meses depois. Mas, ainda assim, sob os protestos de vozes da oposição. A então líder do PSOL, deputada Sâmia Bomfim (SP), criticou a iniciativa. "Trata-se de uma monarquia absolutista, sem Parlamento, sem nenhum tipo de atividade política democrática. Não podemos celebrar esse tipo de parceria", disse.
Ao longo do governo, Eduardo Bolsonaro esteve no pequeno país em pelo menos duas ocasiões e passou a usar suas redes sociais para divulgar o local, acusado pela Anistia Internacional como responsável por tortura, censura e repressão.
Meses depois da abertura da nova embaixada, o governo Bolsonaro ainda tentou indicar o então secretário de produtos de Defesa, Marcos Degaut, como o embaixador do Brasil em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. A medida irritou o Itamaraty.
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