Topo

Jamil Chade

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Rússia diz que Brasília e Moscou querem 'solução política' e ataca EUA

Colunista do UOL

26/04/2023 08h06

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Os governos de Vladimir Putin e de Luiz Inácio Lula da Silva querem uma "solução política" para a guerra na Ucrânia, caminho que não estaria sendo buscado pelas potências ocidentais. A declaração é do embaixador da Rússia na ONU, Gennady Gatilov. Numa coletiva de imprensa nesta quarta-feira, em Genebra, o diplomata insistiu em destacar a aproximação entre os dois países.

"Entendo que o Brasil é favorável a uma solução política. A Rússia também é favorável a isso. Mas sabemos muito bem quem está se opondo a essa solução política", afirmou o diplomata, numa alusão às potências ocidentais e em resposta ao UOL.

A solução política que Moscou tem sinalizado nos bastidores, porém, não conta com qualquer tipo de apoio nem dos europeus, nem de americanos e causa mal-estar também na cúpula da ONU. Ela não envolveria uma retirada imediata de tropas de áreas ocupadas, não abrir mão da Crimeia e ainda faria exigências para a OTAN.

O governo de Kiev também apresentou um plano de paz, mas que é rejeitado pelo Kremlin. Pelo pacote, apenas pode acontecer um diálogo para um cessar-fogo quando os militares russos se retirem de todas as áreas invadidas.

Para os russos, porém, o Kremlin e o governo Lula compartilham a mesma visão de alguns dos principais pontos da agenda internacional. "Temos uma cooperação muito boa com Brasil e a visita do ministro Serguei Lavrov ao Brasil prova que temos uma relação muito próxima e compreensão dos principais problemas internacionais", disse o embaixador, citando a visita de um dos principais aliados de Vladimir Putin ao Brasil, há uma semana.

Brasil não adere a projetos de Biden

Gatilov ainda destacou a decisão do Brasil de não aderir de forma integral à agenda internacional de Joe Biden, presidente dos EUA. Um deles foi a segunda reunião da Casa Branca para a defesa da democracia, com aliados de várias partes do mundo.

Apesar de Jair Bolsonaro ter participado do primeiro encontro, em 2022, Lula decidiu não fazer parte do esforço, em 2023. A suspeita do Brasil é de que Washington estaria apenas usando o termo "democracia" para construir uma aliança contrária aos chineses e russos.

A esperança dos americanos era de que, com o risco de ruptura da democracia no Brasil no final de 2022 e no início de 2023, Lula não teria opção senão a de participar do encontro e das iniciativas.

Para os russos, isso é um sinal de que o Brasil mantém sua postura de distanciamento. "Isso mostra que o Brasil não concorda com a política dos EUA e do campo ocidental", disse o diplomata russo.

Nas últimas semanas, Lula tem gerado críticas por parte de diplomatas americanos e europeus, diante de sua postura em relação à guerra. Mas, no Itamaraty, o posicionamento é de que o Brasil simplesmente quer manter os espaços para que um diálogo possa ocorrer e que não há um esforço para equiparar as responsabilidades entre ucranianos e russos.

Desde que assumiu, Lula tentou construir seu espaço no debate fazendo gestos a ambos os lados.

  • Votou ao lado de americanos numa resolução na ONU condenando a agressão dos russos contra a Ucrânia.
  • Assinou uma declaração com Biden na qual condenava a agressão russa.
  • Assinou declaração conjunta com o alemão Olaf Scholz apoiando a perspectiva da Europa na guerra.
  • Denunciou a violação do território ucraniano.
  • Disse que a Rússia fez erro histórico ao invadir a Ucrânia e que "entende" a preocupação dos europeus diante da invasão.
  • Aceitou dialogar com Zelensky
  • Celso Amorim indicou que visitará Kiev.

Mas Lula deu sinalizações aos russos quando:

  • Votou ao lado de Moscou numa resolução no Conselho de Segurança pedindo uma investigação sobre a explosão do gasoduto no Mar do Norte.
  • Recebeu o chanceler Serguei Lavrov e não rebateu a declaração do russo de que os dois países têm a mesma perspectiva sobre a guerra.
  • Sinalizou apoio ao plano de paz chinês
  • Equiparou Ucrânia e Rússia na responsabilidade pela continuação do conflito
  • Disse que europeus e americanos prolongam a guerra.?Sugeriu que a retomada da Crimeia fosse abandonada pelos ucranianos.
  • Criticou as sanções impostas contra Moscou.